quarta-feira, 27 de junho de 2018

DEZ PERGUNTAS A... SÍLVIA SCHMIDT


Agradecemos à autora SÍLVIA SCHMIDT a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto autora e pessoa?

Uma cidadã hoje mergulhada no caos- no universal - em conexão com o internacional e regional. Sinto-me parte do todo no todo. Uma miríade. A obra a materialidade por onde esta consciência transcende da autora que se cria. Sou linguagem e línguas dentro do conceito - escreviver - já usado por Clarice Lispector e o poeta gaúcho Carlos Nejar. Não há separação.

2 - O que a inspira?

Estas possibilidades quânticas, a vida em si – como disse Osho – “uma oportunidade” e Guatari e Deleuze na Filosofia “o devir”. Estas aberturas para o novo o surpreendente. Um barco jogado ao mar enquanto Língua por Saussure em seus estudos em linguística geral.

3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?

Não, muito pelo contrário se somos este emaranhado de possibilidades – se estou na vida para o encontro não posso colocar barreiras entre o que estou sendo, penso e faço. Isso não quer dizer que não tenha meus limites, senso crítico e claro ética. Mas tabu no sentido de preconceitos e ou moralidades excludentes não.

4 - Que importância dá às antologias e colectâneas?

Muita! Penso que com o mercado editorial sectarizado e recrudescido cada dia mais precisamos nos unir. Numa coletânea nós escritores em diferentes gêneros literários podemos dialogar, mostrar e revelar novos escritos. Nem sempre possível em uma obra pelo valor que isso significa assim como a dificuldade de encontrarmos o leitor a livraria que a recebam. Devemos organizar mais coletâneas, e se possível com temas , com intenções para que elas ganhem força. Resenhar, criticar – pensar o encontro dos selecionados. Importante critério na seleção sem o qual as mesmas podem cair em descaso. Isso é papel importante de curadoria - que precisa além do trabalho gráfico editorial saber selecionar escritores pautados em crítica literária. Dar harmonia entre os escolhidos, instigar o exercício da escrita enquanto experiência com a matéria prima da Literatura a palavra e distribui-las a em eventos tais como saraus, feiras de livros, festas, bibliotecas. Vejo vocês realizar isso. Fico muito grata.

5   - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

Há dois momentos no surgimento da web na minha escrita. Ao estar na vida, nestas tantas viagens entre diferentes países, fora de ordem e fora de casa, a internet me conectou sim com os amigos da estrada, com a família e claro com o leitor. Foi sensacional estar ali junto de tantos que inclusive se tornaram vozes em personagens quando neles encontrei originalidade. Para divulgar meus escritos, lançamentos foi essencial. Há muitos sites que há anos permitem o encontro em salas de modo online e ao vivo. O lançamento de meu primeiro romance - 2014 - Duty Free - foi realizado assim em museus e bibliotecas e com sala virtual cheia, o que não ocorre hoje em encontros presenciais infelizmente. Realizei um que será marco em meu processo - Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Fiz para compreender e mostrar os passos de catalogação de uma obra: o ISBN - Catalogação, Direitos autorais - o arquivo legal. Enfim os passos para legitimar a obra oficialmente. Segue link abaixo.
Por outro lado, estar disponível demais no meio virtual tira do leitor por vezes a curiosidade de encontros presenciais e mesmo a leitura da obra. Pequenos trechos os satisfazem e isso torna o processo desistimulante para quem escreve. Surgem críticos dispostos a tirar onda com sua pequena e ainda insignificante parcela de trabalhos, obras ainda não lançadas. Ao expormos estes pequenos arroubos de iniciantes, por vezes impensadamente – queimamos etapas - e curadores de prêmios significativos exigem ineditismo. Somos artistas sempre exigidos e quase nada lembrados. 

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

A demora por correspondências – que sejam os leitores, os prêmios, os convites às mesas e debates às coletâneas e resenhas com certeza é o lado negativo da arte literária. Há estudos em letras contemporâneas riquíssimos que vamos ter acesso muitos anos depois de anunciados, estamos sempre atrasados no tempo criativo em relação ao expositivo. Uma lástima. Eu pessoalmente corro para não perder este delay – deste vácuo e isso cansa também por demais. Para estarmos no meio crítico criativo há de se fazer investimentos em viagens para estes debates, congressos, festas literárias, a compra dos livros. O tempo de leitura dos escolhidos. Recém descobri um marco histórico da literatura latinoamericana e estou há meses procurando torná-la conhecida e reconhecida no meio. Num primeiro momento desconfiam – o que te afasta ainda mais da sua intenção genuína, depois te esquecem para que não crie cama nem fama entre os famosos. Não é fácil e exige responsabilidade inclusive no que tange o campo do conhecimento. Não é nada gratuito muito menos glamoroso. É trabalho não remunerado.
Penso no entanto que o lado positivo é este universo criativo de possibilidades mil que me alimenta intelectual e espiritualmente. Uma estrada com pedras de pontas afiadas, mas que temos que saber esperar, trocar e confiar. Do campo do conhecimento a Literatura é das trocas simbólicas a mais exigente e isso nos faz redimensionar o olhar, a postura com as diferenças ter posição crítica e política. Como comentei lá em cima estou absolutamente imersa. Algo sairá deste caldo de estrelas e entrelinhas - espero.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Estudos críticos e para isso um profissional da area. Sou formada em Letras, e nem sempre reconhecida como uma profissional. Podemos não ter talento mas na hora de uma resposta em teoria, crítica (acadêmica e criativa) ou em debates o profissional precisa ser chamado. Nem sempre quem tem apenas talento, criatividade com a escrita tem as condições para circusncrever o objeto ali exposto. Posicioná-lo no tempo no espaço em sua originalidade em referências históricas é super importante para dar-lhe legitimidade. Enfim teoria e prática nem sempre andam juntas. O curador precisa deles e deve dar ao devido respeito ao procurar um profissional que experiente em estudos literários para aí então divulgá-los.

8 - Quais os projectos para o futuro?

Hoje depois de 16 anos na sala de aula como professora de Literatura e  18 anos na estrada, como disse escrevivendo, preciso de um lugar silencioso para descansar. Na verdade editar-me. Preferi eu mesma editar-me através do selo Símbol@Digital sob minha concepção. As mulheres em especial estão a elaborar seus escritos, suas obras porque perceberam em tempo que o mercado lhe é fechado. No Brasil estudos provam que é machista elitista e excludente. Esperar mais o quê se isso já esta definido por estudos seríssimos. então mãos “às obras”. Tenho pelo menos cinco livros no prelo e isso significa - orelha de capa, designer, lançamento, divulgação, vendas a parte mais complicada do processo penso eu. Ainda assim estou confiante e faço o que é preciso - com muita rotina.
Ah mas a necessidade do silêncio hoje é urgente.

9 - Sugira um autor e um livro!

Um e um? Quase impossível. Penso sempre em conjunto da obra.
José Saramago - em Evangelho Segundo Jesus Cristo.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Pergunta : o que mereces?
Resposta : ser lida
Segue um poema para fecharmos a entrevista que desde já agradeço com afeto renovado. Livrx para todos.

Livrx

Sob linhas entre folhas- o papel- plano livre lhe cai
um vento- brisa sucinto para ele sopra todo o falar
mãos de anjos subscrevem no símbolo o som sibilar

Nele costumes união -de ritmos- em belas imagens
sincretismos entre decassílabos poemas ou haikais
revelam -se as dores d'alma do corpo inerte - cais

Signos que ao todo como- metáfora- em sílabas vai
incrustando desejos e no tempo sua morada fazem
de platônica estrada suas curvas ruas ou mesmo ais

Assim em quase- poético filamento-profético se faz
alcançando invernos qual galhos em árvores- sublime paz
não se perscrutam sua origem ou mesmo sua finalidade

A palavra em sua metalinguagem- falácias nele escorre
entre areias brancas e tufos de algodão na incapacidade
por não refazer a trajetória-bagagem- a que lhe é d´ fato

[Livrx- estado-de quem pensa em quase fúnebre marcha
 cujo contrário também lhe é próprio e acertado de fato]
In esparsos

Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link

2 comentários:

  1. grata amigos do Toca e de Conexões . Feliz por esta oportunidade.

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