sábado, 10 de março de 2018

EU FALO DE... INDIVIDUALISMO E VAIDADE PESSOAL


Muitos apontam o individualismo como sendo a principal característica que podemos observar nas sociedades modernas. Isso deve-se, sem qualquer dúvida, entre outras razões, ao modo, excessivo e descontrolado, como se interiorizou, na prática, o espírito de concorrência.

Vivemos numa época em que o esforço colectivo só faz sentido em casos extremos e o quotidiano é uma selva, onde impera a lei do mais forte, só os mais capazes podem sobreviver e a regra mais comum é a do "salve-se quem puder". A este género de individualismo dão o nome de meritocracia.

Há alguns anos, alguém disse-me, a este propósito, que o individualismo é a forma mais incorrecta do uso do ego. Com o tempo, observei que esta tese não é descabida de todo. Contudo, nesta matéria, não quero perorar sobre as origens. Já escrevi tanto sobre o ego que, dizer mais uma palavra que seja, acaba por ser irrelevante. Prefiro discorrer sobre as consequências que, no meu ponto de vista, são bem mais nocivas e dignas de reflexão.

Por norma, o incentivo que se dá ao individualismo advém de alguns casos de sucesso que, apesar do mérito e sendo tão escassos e residuais, acabam por se transformar numa espécie de amostra credível do êxito que se pode alcançar enveredando por essa filosofia comportamental. Assim alimenta-se a ilusão daqueles que julgam reunir, também eles, as condições ideais para serem casos de sucesso. Consequência directa dessa percepção errada é a crescente onda de aderentes "à causa".

No entanto, o que mais sobressai, de todo este movimento individualista, é a incapacidade individual de perceber os erros e a forma exacerbada com que se reagem a determinadas situações. Muitas vezes, pequenos feitos, por mais inócuos que sejam, são transformados em sucessos estrondosos pelas falsas interpretações de quem quer, à força, fazer-se notar. E neste casos surge a mais evidente prova que a generalidade transporta em si apenas a valorização exagerada da sua própria fatuidade e não a tentativa de marcar a diferença pelo mérito.

No fundo, assiste-se ao incentivo do culto da vaidade pessoal, sem regras, modelos ou exemplos credíveis, mascarado pela moda do individualismo, tão defendido e em voga.

Quem estiver atento consegue, sem dificuldades, ver as diferenças e perceber que o famigerado mérito é apenas figura de prosápia.

MANU DIXIT

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