Muitos apontam o individualismo como sendo a principal
característica que podemos observar nas sociedades modernas. Isso deve-se, sem
qualquer dúvida, entre outras razões, ao modo, excessivo e descontrolado, como
se interiorizou, na prática, o espírito de concorrência.
Vivemos numa época em que o esforço colectivo só faz
sentido em casos extremos e o quotidiano é uma selva, onde impera a lei do mais
forte, só os mais capazes podem sobreviver e a regra mais comum é a do
"salve-se quem puder". A este género de individualismo dão o nome de
meritocracia.
Há alguns anos, alguém disse-me, a este propósito, que
o individualismo é a forma mais incorrecta do uso do ego. Com o tempo, observei
que esta tese não é descabida de todo. Contudo, nesta matéria, não quero
perorar sobre as origens. Já escrevi tanto sobre o ego que, dizer mais uma
palavra que seja, acaba por ser irrelevante. Prefiro discorrer sobre as
consequências que, no meu ponto de vista, são bem mais nocivas e dignas de
reflexão.
Por norma, o incentivo que se dá ao individualismo
advém de alguns casos de sucesso que, apesar do mérito e sendo tão escassos e
residuais, acabam por se transformar numa espécie de amostra credível do êxito
que se pode alcançar enveredando por essa filosofia comportamental. Assim
alimenta-se a ilusão daqueles que julgam reunir, também eles, as condições
ideais para serem casos de sucesso. Consequência directa dessa percepção errada
é a crescente onda de aderentes "à causa".
No entanto, o que mais sobressai, de todo este
movimento individualista, é a incapacidade individual de perceber os erros e a
forma exacerbada com que se reagem a determinadas situações. Muitas vezes,
pequenos feitos, por mais inócuos que sejam, são transformados em sucessos
estrondosos pelas falsas interpretações de quem quer, à força, fazer-se notar.
E neste casos surge a mais evidente prova que a generalidade transporta em si
apenas a valorização exagerada da sua própria fatuidade e não a tentativa de
marcar a diferença pelo mérito.
No fundo, assiste-se ao incentivo do culto da vaidade
pessoal, sem regras, modelos ou exemplos credíveis, mascarado pela moda do
individualismo, tão defendido e em voga.
Quem estiver atento consegue, sem
dificuldades, ver as diferenças e perceber que o famigerado mérito é apenas
figura de prosápia.
MANU DIXIT
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