sábado, 10 de fevereiro de 2018

EU FALO DE... RACIOCÍNIO E COERÊNCIA


O raciocínio é uma característica humana que prezo. Assim penso e por isso penso. Através do raciocínio formei-me de acordo com ideais e conceitos, também nascidos de reflexão, e tenho vindo a construir-me, apenas e só, por ter este hábito de pensar-me. Esta formação alicerçada no pensamento exige não só a auto-disciplina de pensar-se constantemente, mas também de criar bases sólidas que sustentem pensamentos futuros, sem descredibilizar os passados. Isto significa manter uma linha de coerência reflexiva.

Raciocinar não é um simples acto de construção. Usar o raciocínio é, acima de tudo, uma forma de crescimento e aperfeiçoamento que, na maioria das vezes, e quando bem utilizada, tem o condão de fazer-nos confrontar racionalmente os nossos parâmetros e questionar a tal linha de coerência, sempre tão frágil e ténue.

Pensar-me tem ajudado a compreender a facilidade com que a coerência pode ser posta em causa, pelos mais ínfimos detalhes, quando não entendida como uma lógica de evolução e melhoramento. No fundo, coerência não implica dogmatismos mas sim ideias evolutivas e moldáveis em defesa daquilo que se acredita.

Serve esta dissertação meio trapalhona e atabalhoada, à falta de maior capacidade explicativa, para justificar a minha forma de estar e compreender o universo da escrita, tal como ele se apresenta e, com pena minha, recusa alterar-se e resiste à mudança.

Quando comecei a interagir com mais frequência com os diversos agentes do mundo literário, dei conta de algumas lacunas. Reflecti na necessidade de alguns autores e quão fraca era a visibilidade dos seus trabalhos e, em 2010, criei um projecto de divulgação, que evoluiu e se mantém até hoje. Apesar da incerteza, persisti e consegui dar-lhe uma dimensão razoável que, não sendo a ideal, sempre contribuiu para que alguns autores e editores achassem por bem confiar neste projecto. Em simultâneo, e seguindo uma linha de postura coerente, mantive durante alguns anos o hábito de fazer a divulgação de eventos literários, independentemente dos organizadores, dos editores, dos autores e dos locais onde se realizavam. Até determinada altura, esse meu trabalho franco foi quase unanimemente aceite e compreendido.

Por outro lado, desde 2011, tenho-me manifestado contrário ao sistema implementado e sempre contestei as condições que são colocadas aos autores, na hora de editar e para o fazer. Ao longo dos anos tenho tido o cuidado de pautar o meu discurso nesse sentido e, em muitos trabalhos realizados, procuro que as condições sejam o mais parecidas possível com aquilo que eu julgo serem as ideais. Esta minha luta, que nunca escondi, também foi aceite e mereceu compreensão.

A minha postura, tanto no projecto de divulgação como na contestação ao sistema instalado (que não altero e mantenho como sendo algo que acredito ser justo e possível alcançar), é fruto do raciocínio feito depois de observar as diferentes variantes que esta problemática encerra. Eu analisei, pensei, reflecti, para depois criar ideias baseadas nas minhas próprias conclusões e tenho agido em conformidade, com empenho, as armas que tenho e coerência.

Posto isto, e depois de uma grande dose de reflexão, decidi pegar na experiência acumulada, em trabalhos executados para algumas editoras, e servir-me dela para impulsionar o meu trabalho de divulgação, com a criação de uma antologia. Depois de ler e analisar diversos regulamentos, elaborei um que se adequasse à minha pretensão e que fosse o mais fiel possível às minhas convicções profundas.

Tendo divulgado mais de 3500 poemas, ao longo de oito anos, no blogue TOCA A ESCREVER, decidi criar esta antologia de modo a fomentar ainda mais essa vertente de divulgação de poesia lusófona.

Eu defendo que os autores não devem pagar para ver os seus trabalhos editados, nem nas publicações colectivas. Contudo, e porque esta minha iniciativa é de cariz particular, sem qualquer apoio ou envolvimento de editora, tive de adequar o regulamento às necessidades de custos que uma edição envolve, daí o valor por poema (5€).

Também procurei uma forma de criar condições de benefício para os autores participantes, em caso de pretenderem exemplares para além daquele que lhes será "ofertado", pois seria injusto, e incoerente com o meu pensamento, que os autores pagassem o valor igual aos não participantes. (7€/autores, 10€/público)

É minha intenção mandar imprimir, para além dos exigidos por questões legais (depósito legal e isbn), os exemplares correspondentes ao número de autores participantes, acrescido de dez exemplares para a sessão de lançamento da obra e posteriores acções de divulgação (propósito génese desta iniciativa).

Por pensar-me e raciocinar no que faço, chego à conclusão que muitas vezes as minhas acções roçam a incoerência junto das minhas palavras. E é o caso desta minha iniciativa. Por um lado continuo a ser crítico com o facto de exigir-se dinheiro aos autores para editar (seja em que moldes for), por outro, eu próprio faço essa cobrança neste projecto, mesmo que o faça por falta de meios para o fazer de outra forma.

Pergunto-me se não seria mais coerente ficar quieto, como muitos fazem, e limitar-me a contestar, do que tentar fazer coisas de maneira diferente mas que ficam feridas, em elevado grau, pela notória incompatibilidade que têm com aquilo que tanto contesto?

Pensando-me, pensei na resposta a esta questão e concluí que, para atingir os fins que me proponho, volta e meia tenho de colocar de lado a rigidez do pensamento, engolindo alguns sapos auto-criados, e atingir a coerência, que tanto apregoo, contornando-a com a coerência do raciocínio.


MANU DIXIT

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