O raciocínio é uma característica humana que prezo.
Assim penso e por isso penso. Através do raciocínio formei-me de acordo com
ideais e conceitos, também nascidos de reflexão, e tenho vindo a construir-me,
apenas e só, por ter este hábito de pensar-me. Esta formação alicerçada no
pensamento exige não só a auto-disciplina de pensar-se constantemente, mas
também de criar bases sólidas que sustentem pensamentos futuros, sem
descredibilizar os passados. Isto significa manter uma linha de coerência
reflexiva.
Raciocinar não é um simples acto de construção. Usar o
raciocínio é, acima de tudo, uma forma de crescimento e aperfeiçoamento que, na
maioria das vezes, e quando bem utilizada, tem o condão de fazer-nos confrontar
racionalmente os nossos parâmetros e questionar a tal linha de coerência,
sempre tão frágil e ténue.
Pensar-me tem ajudado a compreender a facilidade com
que a coerência pode ser posta em causa, pelos mais ínfimos detalhes, quando
não entendida como uma lógica de evolução e melhoramento. No fundo, coerência
não implica dogmatismos mas sim ideias evolutivas e moldáveis em defesa daquilo
que se acredita.
Serve esta dissertação meio trapalhona e atabalhoada,
à falta de maior capacidade explicativa, para justificar a minha forma de estar
e compreender o universo da escrita, tal como ele se apresenta e, com pena
minha, recusa alterar-se e resiste à mudança.
Quando comecei a interagir com mais frequência com os
diversos agentes do mundo literário, dei conta de algumas lacunas. Reflecti na
necessidade de alguns autores e quão fraca era a visibilidade dos seus
trabalhos e, em 2010, criei um projecto de divulgação, que evoluiu e se mantém
até hoje. Apesar da incerteza, persisti e consegui dar-lhe uma dimensão
razoável que, não sendo a ideal, sempre contribuiu para que alguns autores e
editores achassem por bem confiar neste projecto. Em simultâneo, e seguindo uma
linha de postura coerente, mantive durante alguns anos o hábito de fazer a
divulgação de eventos literários, independentemente dos organizadores, dos
editores, dos autores e dos locais onde se realizavam. Até determinada altura,
esse meu trabalho franco foi quase unanimemente aceite e compreendido.
Por outro lado, desde 2011, tenho-me manifestado
contrário ao sistema implementado e sempre contestei as condições que são
colocadas aos autores, na hora de editar e para o fazer. Ao longo dos anos
tenho tido o cuidado de pautar o meu discurso nesse sentido e, em muitos
trabalhos realizados, procuro que as condições sejam o mais parecidas possível
com aquilo que eu julgo serem as ideais. Esta minha luta, que nunca escondi,
também foi aceite e mereceu compreensão.
A minha postura, tanto no projecto de divulgação como
na contestação ao sistema instalado (que não altero e mantenho como sendo algo
que acredito ser justo e possível alcançar), é fruto do raciocínio feito depois
de observar as diferentes variantes que esta problemática encerra. Eu analisei,
pensei, reflecti, para depois criar ideias baseadas nas minhas próprias
conclusões e tenho agido em conformidade, com empenho, as armas que tenho e
coerência.
Posto isto, e depois de uma grande dose de reflexão,
decidi pegar na experiência acumulada, em trabalhos executados para algumas
editoras, e servir-me dela para impulsionar o meu trabalho de divulgação, com a
criação de uma antologia. Depois de ler e analisar diversos regulamentos,
elaborei um que se adequasse à minha pretensão e que fosse o mais fiel possível
às minhas convicções profundas.
Tendo divulgado mais de 3500 poemas, ao longo de oito
anos, no blogue TOCA A ESCREVER, decidi criar esta antologia de modo a fomentar
ainda mais essa vertente de divulgação de poesia lusófona.
Eu defendo que os autores não devem pagar para ver os
seus trabalhos editados, nem nas publicações colectivas. Contudo, e porque esta
minha iniciativa é de cariz particular, sem qualquer apoio ou envolvimento de
editora, tive de adequar o regulamento às necessidades de custos que uma edição
envolve, daí o valor por poema (5€).
Também procurei uma forma de criar condições de
benefício para os autores participantes, em caso de pretenderem exemplares para
além daquele que lhes será "ofertado", pois seria injusto, e
incoerente com o meu pensamento, que os autores pagassem o valor igual aos não
participantes. (7€/autores, 10€/público)
É minha intenção mandar imprimir, para além dos
exigidos por questões legais (depósito legal e isbn), os exemplares
correspondentes ao número de autores participantes, acrescido de dez exemplares
para a sessão de lançamento da obra e posteriores acções de divulgação
(propósito génese desta iniciativa).
Por pensar-me e raciocinar no que faço, chego à
conclusão que muitas vezes as minhas acções roçam a incoerência junto das
minhas palavras. E é o caso desta minha iniciativa. Por um lado continuo a ser
crítico com o facto de exigir-se dinheiro aos autores para editar (seja em que
moldes for), por outro, eu próprio faço essa cobrança neste projecto, mesmo que
o faça por falta de meios para o fazer de outra forma.
Pergunto-me se não seria mais coerente ficar quieto,
como muitos fazem, e limitar-me a contestar, do que tentar fazer coisas de
maneira diferente mas que ficam feridas, em elevado grau, pela notória
incompatibilidade que têm com aquilo que tanto contesto?
Pensando-me, pensei na resposta a esta questão e
concluí que, para atingir os fins que me proponho, volta e meia tenho de
colocar de lado a rigidez do pensamento, engolindo alguns sapos auto-criados, e
atingir a coerência, que tanto apregoo, contornando-a com a coerência do
raciocínio.
MANU DIXIT
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso