Em outubro de 2012, movido pela curiosidade que a
apresentação de um livro me suscitou, acabei por conhecer Jesús Recio Blanco e,
desde esse dia temos conversado algumas vezes, via redes sociais, sobretudo de
poesia.
Numa dessas conversas, foi-me enviado, um conjunto de
textos para análise e respectiva opinião. O conteúdo dos poemas que li e a
ideia adjacente ao projecto, que o Jesús Recio Blanco teve a bondade de
partilhar comigo, deliciaram-me e manifestei-lhe isso mesmo.
Passado algum tempo (talvez quase dois anos) e depois
de ser confrontado com a dificuldade de editar o livro nos moldes que
pretendia, Jesús Recio Blanco desafiou-me a contribuir, com textos meus, numa
versão distinta do seu projecto inicial. Isto é, em vez de um livro bilingue
(português/braille), seria um livro feito a duas vozes, tendo por base temática
a cegueira.
Confesso que senti o peso da responsabilidade inerente
ao meu envolvimento nesse projecto mas, como sou um homem que gosta de desafios,
aceitei na esperança de conseguir estar à altura e corresponder ao que de mim
era pretendido.
Com esse propósito e sem afastar-me dos meus hábitos,
no que ao processo criativo diz respeito, fiz todo o trabalho de pesquisa,
elaboração e construção de textos, limando aqui, eliminando ali, acrescentando
acolá e, ao fim de nove meses e duas semanas, achei ter chegado ao resultado
esperado e enviei o material para o Jesús Recio Blanco.
O entusiasmo com que reagiu ao que lhe enviei levou-me
a sugerir que sujeitássemos a globalidade do trabalho ao crivo analítico de
alguém cuja capacidade e conhecimentos poéticos nos garantisse um olhar isento,
directo e crítico.
A verdade é que a resposta que obtivemos ultrapassava
em muito as nossas melhores expectativas e a força das palavras recebidas, e
erros apontados, deu-nos o empurrão que faltava para levarmos adiante o
projecto POLICROMIA PARA CEGOS.
Perante a certeza de estarmos com um trabalho que
merecia ser editado e, consequentemente, levado ao conhecimento dos leitores,
iniciámos todo o processo de elaboração final do livro. Em primeiro lugar
decidimos prescindir dos direitos de autor em favor da ACAPO - Associação de
Cegos e Amblíopes de Portugal. Posteriormente, chegámos à conclusão que Alvaro
Giesta, não só pela opinião que nos tinha dado sobre o trabalho, mas também,
era a pessoa ideal para prefaciar a obra. Nosso primeiro grande acerto. Por
sugestão minha, convidámos a Ana Areal para fazer a ilustração para a capa e,
de mútuo acordo, achámos que seria boa ideia colocar, na contracapa, um texto
seu explicando a imagem concebida. O resultado não poderia ser melhor. Segundo
grande acerto.
Depois de tudo decidido restou-nos enviar o material
para a editora e esperar pela marcação da sessão de lançamento. Quando chegou a
confirmação final de data e local do evento convidei Francisco Valverde Arsénio
para ser o apresentador desta obra.
25 de Fevereiro de 2018 acabou por revelar-se um dia
agridoce. O que deveria ser um momento de comunhão, partilha e, acima de tudo,
festa da poesia, teve o sabor amargo da ausência do elemento génese do projecto
(Jesús Recio Blanco) e o imprevisto, a que todos estamos sempre sujeitos, do
atraso involuntário do apresentador da obra. Perante a inevitabilidade de, pela
primeira vez no meu percurso, ter de iniciar um evento depois da hora marcada,
servi-me da capacidade de improviso e depois a coisa encarrilou.
Na mesa ficaram: o editor António Vieira da Silva, a
ilustradora da capa Ana Areal - a quem agradeço a disponibilidade de sentar-se
ao nosso lado para dar um colorido diferente - e eu, em representação dos
autores.
Após as boas-vindas por parte do editor e uma pequena
intervenção de Ana Areal, coube-me a tarefa de explicar, a cronologia de todo o
processo, tal como relatei neste texto. A minha dissertação permitiu, e ainda
bem, que, entretanto, Francisco Valverde Arsénio chegasse, a tempo de falar,
aos presentes, e revelar as suas impressões sobre o POLICROMIA PARA CEGOS.
Terceiro grande acerto.
Para finalizar a descrição do evento falta fazer
referência aos presentes, poucos mas bons, que interagiram de forma a
permitir-me dizer que este POLICROMIA PARA CEGOS foi entregue a bons leitores.
MANU DIXIT
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