Em oito anos, já perdi a conta ao número de eventos
literários que assisti. Estive em auditórios, livrarias, bibliotecas, museus,
cafés, restaurantes, câmaras municipais, juntas de freguesia, quartel de
bombeiros, mercados e até em eventos ao ar livre.
Foram oito anos a ver muitas formas de organização,
muitos modelos de moderação, muitos modos de interacção entre autores,
editores, promotores, leitores e público em geral.
Estive em eventos de casa cheia e outros com mais
gente na mesa de apresentação que na plateia. Estive em eventos com público
específico e outros com público de todas as idades.
Já estive em tantos eventos, com tantas
características e propósitos, que cheguei a pensar já ter assistido a tudo o
que pode acontecer nestes eventos.
Entre os muitos locais, onde se fazem estes eventos
com regularidade, estão as inúmeras lojas da Fnac. Quem já esteve numa dessas
lojas, sabe que o local disponibilizado para eventos está inserido no espaço de
lazer onde existe a cafetaria.
Devido a essa localização, na hora de uma
apresentação, enquanto os intervenientes falam da obra, do autor, ou estão a
ler algo para a plateia, há sempre um ruído de fundo, da máquina de café ou
chávenas e copos a ser pousados no balcão ou nas mesas e, mais incómodo,
conversas entre clientes do espaço que, não tendo qualquer interesse no evento,
acabam por perturbá-lo com o volume das suas vozes.
Sendo evidente que aquele espaço foi criado para
proporcionar momentos de lazer e é de livre acesso, também não deixa de ser
verdade que os eventos fazem parte daquilo que o espaço tem para oferecer aos
seus clientes. Assim sendo, o comportamento dos utilizadores deveria estar em
conformidade com o que lhes é proporcionado, mas não costuma ser assim, bem
pelo contrário, nota-se uma tremenda falta de respeito pelo evento, pelos
autores e pela plateia.
No entanto, no passado dia 27 de Janeiro, aquando da
apresentação do livro O QUE A MINHA CANETA ESCREVEU de Manuel Machado, na loja
Fnac de Santa Catarina, no Porto, fui surpreendido por algo que merece ser
referido e deve ser objecto de reflexão. Na qualidade de membro da mesa de
apresentação, por ser o coordenador da colecção a que pertence a obra supra
citada, pude verificar, com espanto, que todos os clientes, sem excepção, que
entravam naquele espaço, ao verificarem estar a decorrer um evento literário,
agiram com a maior das normalidades, fazendo os pedidos na cafetaria e
consumindo os seus lanches, com o cuidado de não perturbar e, muitas vezes,
escutando atentamente o desenrolar do evento, numa incrível demonstração de
respeito e civismo, bem diferente do que é regra noutros espaços semelhantes.
Observador como sou, não podia deixar passar em branco
este episódio e tinha de parabenizar publicamente a Fnac de Santa Catarina e os
seus clientes (fi-lo na hora e no local) pelo enorme exemplo de respeito e
saber estar. Fosse sempre assim...
MANU DIXIT
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