Lançamento
ALFARRÁBIOS VI - 23 Fevereiro 2018
MANIFESTO
Nos anos obscuros da ditadura, quando os defensores da ordem proibiam até mesmo a exibição na TV de uma dramatização da vida de São Francisco de Assis porque no elenco estava Plínio Marcos, o escritor mais censurado da nossa história (autor de “Navalha na Carne” e outras peças sobre os marginalizados), surgiu uma imprensa alternativa, cujo símbolo máximo foi O Pasquim. Em escala menor, jovens artistas criaram os fanzines, publicações modestas e desvinculadas de qualquer empresa e, assim, imunes à censura.
A palavra fanzine é a junção de “fã” + “maganize” (revista). Uma revista para fãs de determinada arte. Parece coisa antiquada, daí o nome de nossa publicação – ALFARRÁBIOS. Pode ser antiquado, assim como também é antiquado proibir greves e cortar investimentos em Saúde e Educação pública, mas tá na moda, embora nada dê certo. A diferença é que cremos que o ALFARRÁBIOS dará certo e poderá congregar em torno de si artistas da região metropolitana do Rio de Janeiro, adeptos da poesia, do grafite, do hip hop e de tantas artes.
O ALFARRÁBIOS, modesta, porém pretensiosa publicação, pede passagem para divulgar a arte, promover a livre expressão e conectar pessoas. Sejam bem-vindos e bem-vindas à nossas páginas.
O
discurso da contra-cultura no Brasil: o underground através de Luiz Carlos
Maciel (e. 1970) [Marcos Alexandre Capellari] Ora, uma vez rompido o nó, ainda
que em um único ponto, a tendência é que a rede se esgarce, afrouxando as
malhas nas quais os demais se encontram aprisionados. Considerando-se que todos
os indivíduos, de uma forma ou de outra, encontram-se ligados pelos fios da
cultura, a revolução em um deve necessariamente repercutir nos demais,
promovendo adesões e transformações individuais em cadeia, de modo que,
à revolução interior, psíquica, seguir-se-á naturalmente a revolução cultural (
enquanto esfera pública) e social. (310) A servidão, sob essa ótica, sendo
voluntária devido ao seu caráter cultural, só pode ser rompida voluntariamente,
isto é, pela superação individual da própria cultura que a condiciona. Jamais
pela imposição externa, o que contraria o princípio segundo o qual o habitat da
cultura é o núcleo individual. O repúdio à violência, posto que legitimada
pelas cartilhas revolucionárias, explica-se, destarte, por sua própria
ineficácia, uma vez que a força bruta em si é incapaz de extirpar do coração
das gentes a servidão consentida. A rigor, quando muito, o que a força faz é
adequar o servo aos novos pressupostos senhoriais, conservando assim o secular
quadro mental de submissão à ordem. Uma nova ordem no caso, mas sempre a ordem.
Ainda pior: sendo a violência a fiel guardiã da cultura dominante, ou seja,
último recurso contra a subversão, a sua instrumentalização pelo movimento
revolucionário não faz senão denunciar a sua condição de herdeiro da ordem
opressiva contra a qual se bateu. ____________________ 310 - A
"cultura" é entendida ao mesmo tempo como "pública" e
"psíquica"; ela é um sistema autônomo, mas que não funciona sem a
participação de cada individualidade na sua manutenção: ela é uma rede
simbólica, mas como toda rede, sua tessitura depende dos nós entre as linhas.
A
publicação do ALFARRÁBIOS remonta o período de subversão da produção cultural
dominante nas décadas de 60 e 70. Considerando que a publicação de trabalhos
artísticos, ainda, permanece nas mãos das grandes editoras e que, somente, os
célebres artistas atendem aos interesses das mesmas, esta publicação coletiva
marca a necessidade e a atualidade dos fanzines do período de expressão do
movimento de contra-cultura. Originado da expressão fanatic magazine, fanzine é
classificado como “revista de fã”. É uma forma de edição promovida por fãs de
alguma temática como, por exemplo, histórias em quadrinhos, obras de ficção
científica, filmes, poemas, contos, música etc. É uma publicação livre e
artesanal, elaborada por pessoas apaixonadas por algum tema que desejam
compartilhar com outras pessoas, também, admiradoras das mais diversas
expressões artísticas e culturais. Despojado de qualquer pretensão do ponto de
vista comercial e intelectual, o fanzine se tornou um meio de comunicação
alternativo de produção cultural e de difusão dos ideais do movimento
underground da década de 60. Nascido nos Estados Unidos na década de 60, o
movimento denominado "contra-cultura" foi marcado pelo o ideário
libertário da juventude dessa época. O descontentamento político e social; as
manifestações contra a organização social capitalista, os valores burgueses, o
racionalismo e o cientificismo; o impulso dado para as transformações
comportamentais e o rompimento com a cultura hegemônica e conservadora são
algumas das características desse movimento que se propagou para diversos
países, dentre eles o Brasil. Reacendendo a resistência de outrora, ALFARRÁBIOS
é inaugurado com o manifesto construído por Edson Amaro, afirmando a que veio
esse fanzine - que não se pretende único. Seu curioso nome não requer maiores
comentários aqui, pois o mesmo foi, magistralmente, traduzido por Carlos Brunno
Silva Barbosa. Destaco, apenas, a irreverência do nome que exprime, por um
lado, a proposta deste fanzine e, por outro, a de seu idealizador: Paulo de
Carvalho que costuma se apresentar, simplesmente, como “utópico, maluco e
poeta”.
Por fim, não poderia isentar de irreverência e ousadia aqueles que, não
somente, aderiram à proposta do lançamento do ALFARRÁBIOS, mas que, também,
fazem dele um instrumento de disseminação cultural fora dos padrões de produção
capitalista que visa o mercado e o lucro em detrimento do amplo acesso aos
trabalhos artísticos e da igualdade de oportunidade de divulgação para os
artistas que não são renomados. Nas páginas deste primeiro número do
ALFARRÁBIOS O leitor irá se inquietar com as idéias provocativas de Gabriel de
Souza e Lucas Souza; será tocado pela agudeza e radicalidade dos poemas de João
Ayres; a elegância e sonoridade das palavras de Marcos Valença; as imagens de
Luís Carlos de Carvalho ; imagens intangíveis reveladas nos refinados versos de
Paulo de Carvalho; poemas intimistas de Jammy Said e os questionadores de Edson
Amaro, além de histórias e desenhos de Alexandre Nitzsche que resgatam os bons
tempos dos quadrinhos. [Andreia de Carvalho]
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