sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

ADRIANA APRESENTA... ALFARRÁBIOS

Lançamento ALFARRÁBIOS VI - 23 Fevereiro 2018

MANIFESTO

Nos anos obscuros da ditadura, quando os defensores da ordem proibiam até mesmo a exibição na TV de uma dramatização da vida de São Francisco de Assis porque no elenco estava Plínio Marcos, o escritor mais censurado da nossa história (autor de “Navalha na Carne” e outras peças sobre os marginalizados), surgiu uma imprensa alternativa, cujo símbolo máximo foi O Pasquim. Em escala menor, jovens artistas criaram os fanzines, publicações modestas e desvinculadas de qualquer empresa e, assim, imunes à censura.

A palavra fanzine é a junção de “fã” + “maganize” (revista). Uma revista para fãs de determinada arte. Parece coisa antiquada, daí o nome de nossa publicação – ALFARRÁBIOS. Pode ser antiquado, assim como também é antiquado proibir greves e cortar investimentos em Saúde e Educação pública, mas tá na moda, embora nada dê certo. A diferença é que cremos que o ALFARRÁBIOS dará certo e poderá congregar em torno de si artistas da região metropolitana do Rio de Janeiro, adeptos da poesia, do grafite, do hip hop e de tantas artes.

O ALFARRÁBIOS, modesta, porém pretensiosa publicação, pede passagem para divulgar a arte, promover a livre expressão e conectar pessoas. Sejam bem-vindos e bem-vindas à nossas páginas.

O discurso da contra-cultura no Brasil: o underground através de Luiz Carlos Maciel (e. 1970) [Marcos Alexandre Capellari] Ora, uma vez rompido o nó, ainda que em um único ponto, a tendência é que a rede se esgarce, afrouxando as malhas nas quais os demais se encontram aprisionados. Considerando-se que todos os indivíduos, de uma forma ou de outra, encontram-se ligados pelos fios da cultura, a revolução em um deve necessariamente repercutir nos demais, promovendo adesões e transformações individuais em cadeia, de modo que, à revolução interior, psíquica, seguir-se-á naturalmente a revolução cultural ( enquanto esfera pública) e social. (310) A servidão, sob essa ótica, sendo voluntária devido ao seu caráter cultural, só pode ser rompida voluntariamente, isto é, pela superação individual da própria cultura que a condiciona. Jamais pela imposição externa, o que contraria o princípio segundo o qual o habitat da cultura é o núcleo individual. O repúdio à violência, posto que legitimada pelas cartilhas revolucionárias, explica-se, destarte, por sua própria ineficácia, uma vez que a força bruta em si é incapaz de extirpar do coração das gentes a servidão consentida. A rigor, quando muito, o que a força faz é adequar o servo aos novos pressupostos senhoriais, conservando assim o secular quadro mental de submissão à ordem. Uma nova ordem no caso, mas sempre a ordem. Ainda pior: sendo a violência a fiel guardiã da cultura dominante, ou seja, último recurso contra a subversão, a sua instrumentalização pelo movimento revolucionário não faz senão denunciar a sua condição de herdeiro da ordem opressiva contra a qual se bateu. ____________________ 310 - A "cultura" é entendida ao mesmo tempo como "pública" e "psíquica"; ela é um sistema autônomo, mas que não funciona sem a participação de cada individualidade na sua manutenção: ela é uma rede simbólica, mas como toda rede, sua tessitura depende dos nós entre as linhas.

A publicação do ALFARRÁBIOS remonta o período de subversão da produção cultural dominante nas décadas de 60 e 70. Considerando que a publicação de trabalhos artísticos, ainda, permanece nas mãos das grandes editoras e que, somente, os célebres artistas atendem aos interesses das mesmas, esta publicação coletiva marca a necessidade e a atualidade dos fanzines do período de expressão do movimento de contra-cultura. Originado da expressão fanatic magazine, fanzine é classificado como “revista de fã”. É uma forma de edição promovida por fãs de alguma temática como, por exemplo, histórias em quadrinhos, obras de ficção científica, filmes, poemas, contos, música etc. É uma publicação livre e artesanal, elaborada por pessoas apaixonadas por algum tema que desejam compartilhar com outras pessoas, também, admiradoras das mais diversas expressões artísticas e culturais. Despojado de qualquer pretensão do ponto de vista comercial e intelectual, o fanzine se tornou um meio de comunicação alternativo de produção cultural e de difusão dos ideais do movimento underground da década de 60. Nascido nos Estados Unidos na década de 60, o movimento denominado "contra-cultura" foi marcado pelo o ideário libertário da juventude dessa época. O descontentamento político e social; as manifestações contra a organização social capitalista, os valores burgueses, o racionalismo e o cientificismo; o impulso dado para as transformações comportamentais e o rompimento com a cultura hegemônica e conservadora são algumas das características desse movimento que se propagou para diversos países, dentre eles o Brasil. Reacendendo a resistência de outrora, ALFARRÁBIOS é inaugurado com o manifesto construído por Edson Amaro, afirmando a que veio esse fanzine - que não se pretende único. Seu curioso nome não requer maiores comentários aqui, pois o mesmo foi, magistralmente, traduzido por Carlos Brunno Silva Barbosa. Destaco, apenas, a irreverência do nome que exprime, por um lado, a proposta deste fanzine e, por outro, a de seu idealizador: Paulo de Carvalho que costuma se apresentar, simplesmente, como “utópico, maluco e poeta”. 

Por fim, não poderia isentar de irreverência e ousadia aqueles que, não somente, aderiram à proposta do lançamento do ALFARRÁBIOS, mas que, também, fazem dele um instrumento de disseminação cultural fora dos padrões de produção capitalista que visa o mercado e o lucro em detrimento do amplo acesso aos trabalhos artísticos e da igualdade de oportunidade de divulgação para os artistas que não são renomados. Nas páginas deste primeiro número do ALFARRÁBIOS O leitor irá se inquietar com as idéias provocativas de Gabriel de Souza e Lucas Souza; será tocado pela agudeza e radicalidade dos poemas de João Ayres; a elegância e sonoridade das palavras de Marcos Valença; as imagens de Luís Carlos de Carvalho ; imagens intangíveis reveladas nos refinados versos de Paulo de Carvalho; poemas intimistas de Jammy Said e os questionadores de Edson Amaro, além de histórias e desenhos de Alexandre Nitzsche que resgatam os bons tempos dos quadrinhos. [Andreia de Carvalho]






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