segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

FALA AÍ BRASIL... BÁRBARA LIA (VII)

Vovó Magnólia nota minha presença. Apenas ela. Cansada de tentar alcançar Caio, eu me afasto. Breve o coração dele vai se cobrir daquela camada espessa, uma camada que sela. Estranho pensar nesta camada como uma cobertura de bolo como aquela pasta americana. É bem assim a vida. Dor a dor as pessoas vão cimentando o coração com uma espessa camada que não quebra, para não vazar o ontem dolorido. O ontem dolorido fica sufocado, e em alguns dias, conforme a gente respira a dor raspa a massa americana e dói. Apenas a minha avó consegue sentir-me. Apenas ela entre amigos e família. No entanto, conheci uma escritora triste que sempre fica na Livraria Ponte de Tábuas, tomando um cappuccino e escrevendo. Ela me vê. Conversamos telepaticamente. Ela diz que gostaria de ver Proust e não eu. Eu pergunto. Quem é Proust? Passo horas ouvindo sobre Proust. Ela o admira. E ela diz que adoraria que eu fosse Proust, pois eu poderia dizer se os escritos dela são Literatura ou desabafo. Poesia ou nada. E ela lê para mim e eu ouço e acho lindo. Ela diz que achar lindo não significa muito. Ela diz que as pessoas choram com propaganda de margarina e gostam de axé. Eu não sei bem o que é axé. Digo que meu avô ouve umas óperas italianas belíssimas e que minha avó adora Chico Buarque. Ela sorri e diz: — Berço de ouro o teu, Mel. Eu sorrio. Nasci em berço de ouro. Sim. Eu nasci. Ela diz que tem nome de escritora: Virginia. As minhas tardes ganham nova alegria. Sento-me diante de Virginia e tenho aulas de Literatura. De vez em quando ela se queixa por eu não ser Proust, mas, com o tempo deixa de humilhar-me por causa de Proust e começa a ser mais amiga.

As filhas de Manuela - página 133.

Bárbara Lia


Sinopse:

As Filhas de Manuela trafega pelo realismo mágico. É um romance de fôlego, inicia em 1839 em plena Guerra dos Farrapos e segue até os dias atuais.  O enredo acompanha a vida de todas as descendentes de Manuela, uma garota simples de Paranaguá que, ao encontrar um oficial da Armada Nacional, muda totalmente de direção a sua vida pacata em uma busca e esta busca pelo homem amado a levará ao encontro de alguém cruel.  Este homem, rejeitado por Manuela, amaldiçoará Manuela e as futuras gerações. Esta maldição acrescentará dor e perdas e o adendo de levarem, todas as mulheres da estirpe de Manuela, uma sombra da cor do sangue.
Como cada mulher viveu esta peculiaridade e os desdobramentos deste encontro de Manuela com o amor e o ódio vai definir os passos futuros em um  ciclo de perdas e superações.



As filhas de Manuela - Bárbara Lia
Romance
Menção Honrosa na Primeira Edição do "Prémio Fundação Eça de Queiroz" - Portugal
Capa: Félix Nadar (1820-1910)
Edição Triunfal (SP) - abril de 2017
ISBN 978-856117566-6

**para adquirir o livro contato via e-mail barbaralia@gmail.com ou neste link
***o livro custa R$ 39,00 (já incluído o custo da remessa)


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