quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

FALA ÁFRICA... MACVILDO PEDRO BONDE (XVIII)

Estou a pensar nos anos de seca, de trabalho e esperança, na geração que pouco a pouco vem se afirmando nas artes. Parece que a cada degrau que dispo nas artérias da urbe salta a crença de que nada há de tão especial que ver o nosso esforço recompensado.

Agora que os dedos não estremecem como nos primeiros anos, o sol desvenda o nosso segredo: trabalho e paixão.

Estou a pensar nas tardes de domingo com Milton Chissano, Terêncio Tovela, Elcides Carlos, Vitor Chibanga, Anselmo Bule, Sérgio Mudjidji, Vido Frias, Celso Ouane, Queirós Júlia, a Wanyah Xavier e mais gente que não cabe nessas linhas, entre a bossa nova e música clássica, entre intervalos e o metrómano deitado no chão.

Estou a pensar nos anos dourados do Arrabenta Xithokozelo. Nos diversos movimentos literários que corporizaram a nossa caminhada. Deixo-me ficar distante e chega-me a memória de Adolfo Saphala, um dos primeiros laureados que sonhou com estes momentos de alegria. Abro um livro na estante e vislumbro o Leo Sidónio, Salésio Massango, Benilde Egista, Urraca Zulima, Flávio Chongola, Sérgio Muiambo e mais tarde, Poeta Militar, ancorado na pasta do Verme. 

No Modaskavalu desbravei o lirismo de Virgílio de Lemos e White, tacteei o hermetismo do Luís Carlos Patraquim. Nas noites anteriores ao sarau deambulei nas costas de Knopfli procurando na cor das estrelas a essência da palavra.


Craveirinha lançou as bases como porte-parole de um país que ainda não existe, Noémia de Sousa trouxe a verticalidade da poesia. Mas, não ficamos ancorados na prata da casa. Com Pessoa cantarolamos a poesia do modernismo português, em Rimbaud e Baudelaire a bela poética francesa.

Breve biografia
M.P.Bonde nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto (JOAC) e do colectivo Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária “Ensaios Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto.

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