sábado, 23 de setembro de 2017

AOS OLHOS DE PAULA OZ

Mais do que escrever sobre um escritor é ler sobre a iconoclastia do verbo: Leonor Nepomuceno, a voz que vem do outro lado dos ângulos e do nascimento da natureza, o dom de atribuir, desabafar, fortalecer, chorar, sorrir, morrer e renascer através do universo.

É um eclipse... Um instante que permanece acima de qualquer metáfora antes utilizada, é um desnudar puro e profundo que se afirma pela diferença do seu olhar perante o mundo e toda a sua conexão, é o sentir da alma. Uma imagética de vislumbres mordazes onde se respira o chão de um querer aristotélico, que em rigor não se identifica com afirmação ou dúvida, mas sim com a curiosidade, a pergunta, a solução de um desabafo poético. É uma poesia de portas abertas e de janelas de esperança, de uma sementeira forte a que se inspira de página em página. Leonor Nepomuceno é a “lavradora da palavra".

A raiz que a poesia precisa para se agigantar com a poetisa.

Ao ler esta obra, encontrei-me a suspirar no tempo, as lágrimas eram nuas e solidárias, o sorriso era amor e sentimento, saudade na voz do vento, um turbilhão em espiral in- concreta e urgente de mais e mais sentidos...tantos e tantos, que atravessei o mundo sem dar conta...

Não é comum esta linguagem quase ostensiva de um desejo, um grito poético para quebrar, desafiar o pico do espírito, levantar referências neo-românticas como se este mundo acontecesse por força de um astro supremo, sonhador e entregue ao destino, um discursar melancólico, belo, tocante, um cântico interior, um altar sem classificação. É um altar onde somente a poesia pode rezar e pedir perdão no coração da poetisa.

São prelúdios contra o supérfluo que nos assombram e cegam pelo fulgor de um vocabulário sincero e tantas vezes mensageiro do céu.

Este livro é uma estrada ou um abismo, é o amor e a revolta, é a natureza e a beleza, é a memória e a mulher, a menina e a sua história, é um tempo dorido, um sem tempo nem dor póstuma, um ser vibrante e inédito diria "cardíaco" que nos leva para um sul de versos como novas parábolas, o coração bate, o coração é quente, o coração pulsa. Há uma corrente inigualável, um rio que corre nas veias, a chuva que molha e canta, a chuva que dança e lacrimeja, a chuva que acolhe e sua... A água casa da ALMA. O sonho casa da TERRA.

A autora Leonor Nepomuceno não nos permite a fuga, não nos permite o não-sentir, ela é tão autêntica, tão real, tão poesia qua as palavras, vivem dentro dela. Soltas, nuas, numa transparência que chega a atingir um heterónimo de si mesma, sendo um “eu ”peculiaríssimo, o que resta é um nome favorecido pelo Deus da humildade num sedutor espelho sem ficção.

Este é o livro que qualquer pessoa, qualquer poeta, qualquer sobrevivente, gostaria de ter escrito.

Assim, labirinto primordial de uma obra com vida.
Escadas em mistério... Renovação... Esperança
Paula OZ
Escritora e Critica Literária

Não percas a tua liberdade de errar...
(Leonor Nepomuceno)



Para a obra
- E quando a chuva voltar –

Da autora Leonor Nepomuceno

4 comentários:

  1. Perante esta analise tão forte da parte da Grande Paula Oz, pouco resta para dizer. A Leonor é tudo isto até ao infinito.
    Adorei a analogia" Lavradoura das palavras".
    O livro é de facto o retrato de um sentir fora do comum.
    Obrigada Leonor e a ti Paula agradeço cada sílaba.

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  2. Tenho lido alguns textos isolados com muito prazer.A análise de conteúdo do livro futuro abarca, penso Eu, o que de melhor a Autora poderá proporcionar-nos. Um abraço e muita sorte!

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  3. Parabéns Leonor...do pouco que tenho lido creio que está no caminho certo. A julgar pela crítica da editora, a sua obra merece reconhecimento profundo.

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  4. Paula OZ... Eternamente grata! Célia, Unknown... Muito obrigada!

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