Desesperada voltei.
A casa estava lá, do mesmo jeito. As
paredes tinham as mesmas cores.
Podia até ouvir o barulho da família. Os
dias de festas, papai apressado para a escola, os amigos a jogar no terraço.
Mas os pensamentos faziam eco. Faltavam os móveis, os amigos, a família.
Eu tinha que achar o documento. Estaria
por lá? Provavelmente não, não depois de tanto tempo.
Escutava o zumbido do silêncio.
Entro no quarto que fora meu. Procuro no
guarda-roupas, nas gavetas, nos outros quartos.
Nada. Não havia nada além do cheiro
daquelas alcatifas mofadas.
Comecei a espirrar enquanto andava pelos
outros aposentos.
Lágrimas escorriam.
Vieram as lembranças. Mas lembranças só
não bastavam.
Tinha que achar o documento!
Mas nada! Não encontrei nada!
De repente águas pareciam inundar a casa.
Vinha de todos os lados. O que teria
acontecido? Seria água da piscina?
Parecia lavar tudo. Mas quanta água!
Olhei então para as escadas. Um corpo
era arrastado.
Era o corpo do escritor! Meu Deus, por
que ele estaria ali?
Procurava o mesmo documento que eu?
Que loucura. Só podia ser um pesadelo!
O corpo desceu boiando e a cabeça
encostou em minha perna.
Num ímpeto movimentei-me para correr.
Mas nesta hora ele abriu os olhos e numa
gargalhada que jamais ouvi antes falou:
-Peguei você!
Mini-Biografia:
Taciana Valença - Administradora (Universidade Federal de Pernambuco), escritora, produtora
cultural, editora da Revista Perto de Casa (Recife/PE/Brasil) e Diretora Social
da União Brasileira de Escritores.
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