quinta-feira, 17 de agosto de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK

Era sobre a SAUDADE...

Nas minhas memórias mais longínquas de infância e até no meu “agora”, a SAUDADE sempre esteve presente como se fosse o meu segundo nome. E Portugal, sempre foi aquele segundo país que é abrigado na alma e no coração. Qualquer assunto relacionado a essa terra que tanto me atrai, vira motivo para horas de conversas intermináveis. Lembro-me ainda pequena, das histórias de viagem da minha avó materna, que foi à Europa, por três vezes. Percorreu vários países, e fixava-se a me contar apenas os pequenos e grandiosos detalhes da terra lusa. E entre um gole de vinho do porto, companheiro diário na hora do almoço, me fazia sonhar, enquanto eu mexia em seus Galos Portugueses, enfeite registrado na parede da memória, como símbolo de uma palavra, chamada SAUDADE.

Vindo de um filho da Terra então, o embevecimento é imediato. Mergulho com sede no sotaque, na cultura, nas histórias além–mar, na correta pronúncia da nossa língua-mãe.

Quando passei uma manhã encantada em conversa com Laura Areias, sobre poesia, Portugal, sonhos, livros e saudade,  fui presenteada com duas obras do escritor português Alfredo Antunes, publicados pelo Gabinete Português de Leitura de Pernambuco: Saudade e Profetismo em Fernando Pessoa  e  A saudade , alma da alma portuguesa. Não preciso nem comentar o brilho nos olhos, o sorriso estampado no rosto, e a plena satisfação de um mimo tão representativo para mim.

Desde então estou mergulhada nesse universo chamado SAUDADE, e nem me dei conta, até então, de quanto é imenso, diverso e  cheio de vertentes e caminhos essa palavra tão significativa da nossa língua portuguesa.

Nossa reunião agendada para falar do Pré-lançamento da Antologia do Encontro de Poetas da Língua Portuguesa, parecia reencontro de amigas que marcam um chá para falar de afinidades.

Pensei em falar de SAUDADE e dos livros, e de Alfredo Antunes, mas nesse primeiro momento ninguém mais merece nossa atenção do que essa Senhora de estatura mediana, parecendo frágil por entre as marcas do tempo, mas que na primeira frase já se faz tão grandiosa  que inebria e nos enche com um carinho sutil e com que o ser humano tem de mais precioso, o partilhar de vivências e conhecimento, com a humildade de ensinar e indicar caminhos. Sim, recebi conselhos, que ainda hoje ecoam em minha alma. Bem voltamos a essa mulher fantástica que me inspira na vida e no qual tive apenas dois encontros em 7 anos.

Laura Areias. Uma personalidade. Aos 92 anos, sempre escreveu à mão seus livros, assim como os relatórios do Hospital Real Português do Recife , no qual trabalha como diretora de comunicação incansavelmente. Jornalista, poetisa, ficcionista e escritora, com aproximadamente 50 livros publicados, entre contos, crônicas, ensaios, romances, poesia, livros históricos e religiosos, a jornalista e escritora portuguesa, sem citar prêmios, menções honrosas e homenagens, veio para o Brasil com 24 anos de idade, em 1949, junto com o marido, por causa da perseguição política do governo Salazar ( 1932-1968).Pela proximidade à Portugal, escolheu Recife, para morar.

Palavras de Laura Areias em entrevista há alguns anos atrás por Ney Anderson, resumem com excelência uma parte da nossa conversa que seguiu por vários caminhos. Transcrevo:

“A literatura não pode ser tão diferente da vida, é com isso que ela sempre se preocupou nos romances, em não separar tanto assim o real do ficcional. A maneira de saber quando uma história já chegou ao fim surge tranquilamente para ela, que recebe informações do próprio andamento do texto. “Quando os meus personagens já estão realizados, ou vão casar, morrer, ou caminhar pela vida. Eles não precisam acabar bem. Eles podem acabar de qualquer jeito, porque na vida num dado momento você está de qualquer jeito. Meu livro fica nesse dado momento. O casamento não é um fim, é um meio. Então eu sempre acho que estamos no meio das coisas, e os livros precisam ser assim”.

Laura já poderia estar aposentada, mas esse nunca foi seu desejo, ela atribui essa força aos sonhos que alimenta constantemente. “Todos nós devemos ter um sonho, porque a realidade só existe se tiver um sonho. O sonho é o caminho da sua realização, é ele que desperta para a realidade. É o que leva você a vencer”. Talvez a chave para toda essa vitalidade esteja principalmente na humildade que ela carrega. Mesmo depois de tantas conquistas e dezenas de livros lançados, ela, incrivelmente, não se dá por satisfeita. “Não escrevi o livro que eu gostaria que fosse muito bom. Ainda não me contentei como escritora. Eu tenho os pés no chão”, finaliza.

Laura Areias finaliza a conversa com um sorriso, um abraço e uma grande lição de vida.
E já me deixa com SAUDADE daquela manhã...

Toda a minha admiração para essa portuguesa que veio ao mundo para contribuir, iluminar e brilhar, e incansavelmente continua a sonhar.

DRIKKA INQUIT

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