A propósito da palestra, que me convidaram a fazer, no
próximo dia 9 de Setembro, no CCB, em Lisboa, sobre o que é ser poeta nesta era
digital, e enquanto meditava sobre o que falar nesse evento, dei por mim a
pensar que nunca antes o termo "poeta" me soou tão depreciativo.
Longe vão os tempos em que ser poeta significava algo
de distinto, digno de admiração. Ser poeta era um estatuto outorgado pelos
outros e não era toda a gente que merecia ser reconhecido como tal.
Hoje toda a gente chama poeta a torto e a direito sem
ter em atenção, sequer, se o que é escrito é realmente poesia. E as redes
sociais vieram, também, potencializar essa banalização generalizada que hoje se
observa.
Pior ainda é constatar, cada vez com mais frequência,
que qualquer um se auto-denomina poeta só porque espartilha meia dúzia de
frases, mal escritas e sem conteúdo algum (muito menos poético), em excertos
que chama versos e "aqui vai disto que sou poeta".
Pobres mestres, da arte de poetar, que tanto deram e
tanto contribuíram para a cultura e para a definição do que significa ser-se
poeta. Hoje andam às voltas, perdão, às cambalhotas nas suas tumbas devido à
ousadia destes cus mal lavados que se dizem poetas, sem saberem o que a palavra
quer dizer nem a importância que outros, em tempos de engenho, lhe davam.
Pobre poesia que nasceste marginal e ganhaste o teu
espaço e importância para hoje seres marginalizada na tua essência em
detrimento dos intelectuais de vão-de-escada que, em vez de te honrarem e
enriquecerem, te vilipendiam com imundície e te popularizam com verve falaciosa
que vomitam dos estros secos e vulgares, onde nem a originalidade ocupa lugar.
Sim, longe vão os tempos em que ser chamado poeta era
motivo de orgulho. Sim, longe vão os tempos em que se chamavam os bois pelos
nomes e não era qualquer um que era considerado vate. Sim, longe vão os tempos
em que ser-se poeta era um estatuto ganho pelo reconhecimento dos outros e
pelos outros outorgado.
Hoje não entendo esse epíteto com a conotação
original. Vejo-o quase como uma ofensa. E não creio que os verdadeiros poetas,
que esta língua já deu ao mundo, se sentissem orgulhosos de ver a patente de
poeta ser ostentada sem critério e serem ladeados pelos que hoje se
auto-intitulam poetas. Desconfio que não lhes agradaria, nem um pouco, verem-se
equiparados com quem não sabe distinguir o artigo definido com acento “à” com a
conjugação do verbo haver “há”. Tenho uma ligeira desconfiança que não lhes
seria fácil digerir estarem acompanhados por quem confunde “disse-se” com
“dissesse”. Não me custa prever que não se sentiriam felizes por terem a
companhia de quem escreve “caiem”, “saiem”, ou quem “cose” batatas e “coze”
meias.
Mas tudo isto sou eu que digo porque não sou poeta...
tenho é muito mau feitio.
MANU DIXIT
Cada vez com mais pena de não poder estar presente, mas ainda não perdi a esperança...
ResponderEliminarGrato pela visita comentada... pode ser que as coisas se alterem no mês que ainda falta....
EliminarAmigo, «à» não é nenhum artigo definido, mas sim a contração da preposição «a»com o artigo«a», daí o acento grave.
ResponderEliminarAgradeço a correcção... defeito meu por desconhecer os termos mas mesmo assim querer explicá-los para bom uso da gramática
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