terça-feira, 8 de agosto de 2017

EU FALO DE... O QUE É SER POETA, HOJE

A propósito da palestra, que me convidaram a fazer, no próximo dia 9 de Setembro, no CCB, em Lisboa, sobre o que é ser poeta nesta era digital, e enquanto meditava sobre o que falar nesse evento, dei por mim a pensar que nunca antes o termo "poeta" me soou tão depreciativo.

Longe vão os tempos em que ser poeta significava algo de distinto, digno de admiração. Ser poeta era um estatuto outorgado pelos outros e não era toda a gente que merecia ser reconhecido como tal.

Hoje toda a gente chama poeta a torto e a direito sem ter em atenção, sequer, se o que é escrito é realmente poesia. E as redes sociais vieram, também, potencializar essa banalização generalizada que hoje se observa.

Pior ainda é constatar, cada vez com mais frequência, que qualquer um se auto-denomina poeta só porque espartilha meia dúzia de frases, mal escritas e sem conteúdo algum (muito menos poético), em excertos que chama versos e "aqui vai disto que sou poeta".

Pobres mestres, da arte de poetar, que tanto deram e tanto contribuíram para a cultura e para a definição do que significa ser-se poeta. Hoje andam às voltas, perdão, às cambalhotas nas suas tumbas devido à ousadia destes cus mal lavados que se dizem poetas, sem saberem o que a palavra quer dizer nem a importância que outros, em tempos de engenho, lhe davam.

Pobre poesia que nasceste marginal e ganhaste o teu espaço e importância para hoje seres marginalizada na tua essência em detrimento dos intelectuais de vão-de-escada que, em vez de te honrarem e enriquecerem, te vilipendiam com imundície e te popularizam com verve falaciosa que vomitam dos estros secos e vulgares, onde nem a originalidade ocupa lugar.

Sim, longe vão os tempos em que ser chamado poeta era motivo de orgulho. Sim, longe vão os tempos em que se chamavam os bois pelos nomes e não era qualquer um que era considerado vate. Sim, longe vão os tempos em que ser-se poeta era um estatuto ganho pelo reconhecimento dos outros e pelos outros outorgado.

Hoje não entendo esse epíteto com a conotação original. Vejo-o quase como uma ofensa. E não creio que os verdadeiros poetas, que esta língua já deu ao mundo, se sentissem orgulhosos de ver a patente de poeta ser ostentada sem critério e serem ladeados pelos que hoje se auto-intitulam poetas. Desconfio que não lhes agradaria, nem um pouco, verem-se equiparados com quem não sabe distinguir o artigo definido com acento “à” com a conjugação do verbo haver “há”. Tenho uma ligeira desconfiança que não lhes seria fácil digerir estarem acompanhados por quem confunde “disse-se” com “dissesse”. Não me custa prever que não se sentiriam felizes por terem a companhia de quem escreve “caiem”, “saiem”, ou quem “cose” batatas e “coze” meias.

Mas tudo isto sou eu que digo porque não sou poeta... tenho é muito mau feitio. 


MANU DIXIT

4 comentários:

  1. Cada vez com mais pena de não poder estar presente, mas ainda não perdi a esperança...

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    1. Grato pela visita comentada... pode ser que as coisas se alterem no mês que ainda falta....

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  2. Amigo, «à» não é nenhum artigo definido, mas sim a contração da preposição «a»com o artigo«a», daí o acento grave.

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    1. Agradeço a correcção... defeito meu por desconhecer os termos mas mesmo assim querer explicá-los para bom uso da gramática

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