quarta-feira, 23 de agosto de 2017

EU FALO DE... O BURRO QUE SOU E O BURRO QUE NÃO SOU

Sobre o colecção Status Quo, que coordenei a pedido da Edições Vieira da Silva, e na sequência do que deixei em suspenso no primeiro texto que escrevi, tenho algumas coisitas para dizer.

Reitero a minha satisfação por ter conseguido levar a bom porto esta tarefa que me foi entregue e reafirmo o meu contentamento pela confiança que em mim depositaram - tanto a editora como os autores.

No entanto, tal como escrevi então, este projecto acabou por revelar-se agridoce porque nem tudo correu bem e, tal como fiz na altura junto dos autores, assumo as minhas responsabilidades por inteiro e dou a cara por todos os erros, mesmo os cometidos por terceiros.

O meu maior erro, e que servirá de aprendizagem para futuros projectos, foi não ter acompanhado mais em detalhe cada passo, após o envio do material para a editora. Errei ao esperar que as falhas, que entretanto ia detectando, fossem resolvidas e, acima de tudo, assumidas por quem as cometeu. O meu erro foi pensar que todos os envolvidos se dedicariam a este projecto com a mesma paixão e entusiasmo que eu e os autores. Isso não voltará a acontecer. Não voltarei a cometer esse erro.

Quando falo em terceiros, não estou a referir-me aos responsáveis da editora que, gabo-lhes a paciência, tiveram de ouvir-me protestar constantemente. Quando falo de terceiros, estou a referir-me a uma equipa de paginadores que, durante todo o tempo, demonstrou poucas qualidades para além de incompetência. E, não tenho problema algum em afirmar, sofrem de uma liderança bacoca, sem sentido de responsabilidade e tremenda falta de brio profissional.

Mais grave ainda, para mal do "líder", que teve a ousadia de querer falar comigo pessoalmente - como se eu me intimidasse por falar com chefias - foi ter tentado mandar-me areia para os olhos como se, a minha parca formação e escassos conhecimentos informáticos, fizessem de mim um retardado que come gato por lebre.

Sim, sou um burro a nível de informática... mas não sou burro o suficiente para acreditar que alterar o suporte digital de um ficheiro altera todo o ficheiro a ponto de mudar os textos de sítio. Quanto muito, digo eu que sou o burro informático, os últimos versos de um poema ficam juntos ao título do poema seguinte. Mudar o suporte de um ficheiro não altera a ordem dos poemas nem repete poemas.

Sim, sou um burro a nível informático... mas não sou burro suficiente para deixar que um "líder" incompetente defenda a incompetência da sua equipa que, vai-se lá saber por que razões, decidiram alterar as estruturas do ficheiro e colocar, ao contrário do original, poemas de dupla página na mesma folha.

Sim, sou um burro a nível informático... mas não sou burro suficiente para não detectar erros tão grosseiros e deixar passar em claro, sem reclamar.

E tudo isto aconteceu a propósito dos três primeiros volumes da colecção. E tudo o que escrevi nos três parágrafos anteriores foi o que eu disse ao "líder" da paginação, na presença dos responsáveis da editora. E disse também que, se voltasse a receber os ficheiros pdf naquelas condições, não me custaria absolutamente nada voltar a falar com os autores, que convidei para a colecção, pedir-lhes desculpa por os ter feito perder tempo com este projecto e, simplesmente, cancelar tudo.

Acto contínuo a esta minha postura: não voltei, sequer, a receber os ficheiros finais, que foram enviados directamente aos autores restantes, sem passar pelo meu crivo. Consequência disto: na altura da Feira do Livro de Lisboa, uma das autoras ficou desolada com o resultado final do seu livro, completamente diferente do que havia ficado estipulado entre mim e ela.

Por muito que os editores não tenham culpa directa no sucedido, eu não podia deixar de lhes apontar o dedo por terem deixado de me enviar os ficheiros para aprovação e compactuarem com a incompetência da equipa de paginadores.

Mas para grandes males, grandes remédios e o ficheiro desse livro foi reformatado e reenviado para impressão correcta.

Sim, estou tremendamente orgulhoso do resultado final da colecção Status Quo. Foram muitas horas de dedicação, de contacto com os autores, de revisão aos textos, de negociação com alguns autores para se chegar ao melhor livro possível, de fazer ponte entre autores e editora, de acompanhar o processo (enquanto me foi permitido), de defender os interesses dos autores junto da editora.

Não, não fiquei completamente satisfeito porque foram muitas horas desperdiçadas a remendar incompetências, muitas horas a rever trabalhos de paginação mal executados, foram muitas horas de conversa desnecessária quando tudo poderia ter sido feito com tranquilidade e em muito menos tempo. Não posso ficar completamente satisfeito quando o objectivo de ter toda a colecção pronta a tempo da Feira do Livro de Lisboa foi por água abaixo porque, vai-se lá saber as razões, uma equipa de paginação decidiu fazer um trabalho de auto-recriação e mais não fez que demonstrar aptidões de incompetência.

No fim de tudo isto, sobra-me a confiança dos editores e dos autores e a experiência. No futuro outras experiências me esperarão, certamente.

MANU DIXIT

2 comentários:

  1. Compreendo-te perfeitamente. O mundo editorial tem-se expandido nestes últimos anos, mas infelizmente nem sempre com qualidade e profissionalismo. Um abraço

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