quinta-feira, 24 de novembro de 2016

EU FALO DE... EXTREMISTAS RADICAIS


Uma das características humanas mais marcantes e vulgares nos dias de hoje é o extremismo. Estamos a viver um tempo em que deixou-se de praticar a moderação e desapareceu a capacidade de compreender e aceitar visões distintas.

Neste contexto, não será estranho que também se assista nas artes à proliferação de opiniões radicais defendidas com base na famosa frase "Bushiana": «Ou estão comigo, ou estão contra mim».

Ultimamente, tenho assistido a um aumento considerável de textos em que se advoga que a poesia já não se compadece com rimas, métricas e algumas temáticas. Esses textos, por si só, não encerram mais relevância que aquela que deve ser dada a uma opinião, seja ela qual for. O que choca é ver alguns desses eruditos modernos vomitar postas de pescada, de forma ofensiva e pouco construtiva (ao contrário do que sustentam), em comentários que fazem aos poemas de terceiros.

A falta de competências académicas impede-me de escrever teses ou tratados, com fundamentos claros e precisos, que desmontem o radicalismo dessas opiniões, no entanto, a capacidade de pensar pela minha cabeça, permite-me colocar, à consideração de todos, alguns argumentos óbvios que justificam as razões pelas quais esses opinadores caem no ridículo.

Em primeiro lugar, dizer que um poema rimado, com métrica e que aborde, por exemplo, a temática do amor (tão querida dos poetas), já não é poesia é cair na suprema asneira de considerar que Camões, Bocage, Florbela, Torga, entre outros, deixaram de ser poetas. Isso é ridículo. Dizer que rima, métrica e algumas temáticas já não fazem parte da poesia é negar que grande parte do acervo de Pessoa seja poesia. Isso é ridículo.

Em segundo lugar, considerar que os derivados do romantismo, nascido no século XIX, são os únicos e verdadeiros poetas é negar a importância de todos os outros movimentos artísticos que ajudaram a consolidar a grandeza da poesia e a fazer que a mesma tenha uma história rica, pela influência que tiveram nas tremendas modificações que as sociedades sofreram ao longo dos séculos. Isso é ridículo.

Alardear que a única e verdadeira via é a corrente romântica é contradizer as bases fundadoras do próprio romantismo. E isso, para além de ridículo, é uma demonstração de incoerência.

Mas mais ridícula é a forma extremista com que estes eruditos da modernidade passam a sua mensagem. Ao invés de se limitarem a tornar públicas as suas opiniões e, através delas, angariarem para a sua causa os outros autores, estes senhores da única e verdadeira via, andam activamente a espalhar ofensas e a denegrir tudo o que não estiver dentro dos parâmetros das suas teses radicais, com o argumento que o fazem de forma construtiva e em nome da grandeza e elevação da arte poética.

A grandeza da arte poética eleva-se com base na tolerância e respeito pela diferença. A grandeza da arte poética eleva-se com a capacidade multifacetada dos agentes criadores e das suas criações. A grandeza da arte poética eleva-se no momento em que cada autor tem a liberdade de escolher a via que pretende, os passos que quer dar no seu percurso e a forma que acha mais adequada para fazer passar a sua mensagem.

Por último e porque acredito piamente neste argumento, a poesia não é privilégio nem propriedade de alguns eruditos. A poesia é de todos.

MANU DIXIT

2 comentários:

  1. Esses radicais, por norma, são as unicas pessoas a quem colo rotulos! Marco-os com um "estúpido" e sigo em frente!
    As palavras não pertencem a ninguém. As correntes literarias aparecem e desaparecem, as palavras e as ideias ficam. E o que interessa é a relevância das palavras para quem as escreveu, sejam prosa, poesia ou outra coisa qualquer, e a relevância que podem ter para quem as leia. o resto, como diriam os Americanos, é "bullshit"!

    :)

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