domingo, 16 de outubro de 2016

EU FALO DE... PRÉMIO NOBEL


Não me recordo de alguma vez ter assistido a tanta comoção pela entrega de um prémio, como aconteceu após a divulgação do novo Nobel da Literatura.

Tal como, infelizmente, tem vindo a acontecer na nossa sociedade, e cada vez com mais frequência, não houve meios termos e as posições foram quase todas de extremos, algumas roçando o ridículo. Contam-se pelos dedos de meia mão os argumentos minimamente coerentes usados tanto de um lado como de outro.

Como não me revi em nenhum deles, senti necessidade de expor a minha opinião que, vale o que vale, é apenas isso mesmo, mais uma opinião. 

Em primeiro lugar quero dizer que, ao contrário de muita gente, eu não creio que se tenha aberto uma caixa de Pandora ao atribuir este galardão a um músico, porquanto o prémio é para o poeta Bob Dylan e não para o "tocador de harmónica". Por isso descansem os intelectuais puritanos que não veremos o mesmo acontecer com o Michael Bolton ou o Elton John.

Por outro lado, temos de ter em atenção que uma coisa é poesia e outra, bem distinta, são os poemas de canções. Há sempre tendência para não saber distinguir uma coisa da outra. Infelizmente, são poucos os músicos que escrevem poesia. Entre esses posso referir dois nomes da lusofonia que, na minha opinião, podem ser apelidados de poetas pela riqueza literária das suas obras: Chico Buarque e Sérgio Godinho.

Um dos argumentos que mais me chamou a atenção foi que Bob Dylan sempre se apresentou como músico e nunca como poeta. Pois bem, podem acreditar, aqueles que se auto-intitulam poetas raramente o são. Ser poeta não é um estatuto de auto-proclamação mas sim um estado de aceitação que é concedida pelos outros através desse epíteto.

Para aqueles que duvidam, embora sem argumentação capaz e válida, que Bob Dylan está longe de ser um poeta, recordo-vos o filme Dangerous Minds, com a sensualíssima Michelle Pfeiffer, em que a poesia do novo Nobel é estudada em paralelo com o popular, mas não galardoado, Dylan Thomas. Poucos sabem mas o filme foi baseado em factos reais e a poesia de Bob Dylan serviu mesmo para mudar algumas vidas que, de outro modo, estariam irremediavelmente perdidas.

Para terminar quero deixar expresso o meu regozijo por todo o folclore em redor da atribuição deste Nobel da Literatura, pois revela que, quando o galardoado é conhecido do grande público, ao contrário da maioria dos anteriores, as massas sentem-se na obrigação de dizer algo, só porque sim. E isto nunca poderia acontecer com outro Nobel que não o da Literatura.

MANU DIXIT  
  


4 comentários:

  1. Estoy totalmente de acuerdo. Muchas veces se habla por hablar.
    Felicidades. Bob Dylan..!!

    ResponderEliminar
  2. Viva.
    Olha, eu sou um dos que ficaram perplexo!

    Não digo que a poesia dele não seja boa, que é! Se está ao nível de um prémio Nobel da literatura...
    ...aí é que está o busílis.
    Há em todas as gerações músicos que tiveram um impacto tão grande ou maior do que Dylan. Ficaria menos "desconfortável" se tivessem dado o prémio a Paul Simon, por exemplo.
    Mas aquilo que acho estranho é que a academia tenha quebrado todas as regras para atribuição do prémio. E a justificação que foi dada para a atribuição faz-me lembrar de umas centenas largas de gente que está nas mesmas condições e cujas palavras musicadas tocaram e mudaram a vida de muita gente...

    Mas estes prémios são o que são e valem o que valem (ou seja, nada!) e a acreditar que o Bob se manterá fiel a ele próprio, provavelmente nem agradece o prémio, se não o recusar de todo...

    Mas ele está mais velho, portanto vamos ver onde cai a maçã...

    LOOOOOOOOOOOOOL

    Abraço

    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estou de acordo com a tua análise sobre a justeza ou não desta atribuição.
      O que me fez escrever este texto foi precisamente ter assistido à falta de argumentação como a tua. Inclusive de pessoas que só são poetas quando têm a boca fechada.
      Abraço.

      Eliminar

Toca a falar disso