sexta-feira, 16 de setembro de 2016

EU FALO DE... TERTÚLIAS VERSUS SARAUS


Um dos aspectos que caracteriza o ser humano é a capacidade/necessidade de estar permanentemente em contacto com os seus semelhantes.

Desde o momento que nascemos, passamos a fazer parte de uma família e, por consequência, à sociedade, e ao longo da vida vamos tentando a inserção em vários grupos, quase de forma natural. Todos nós frequentámos a escola e tivemos as nossas turmas, depois passámos a trabalhar e passámos a fazer parte de um grupo restrito de pessoas lá da empresa. E passámos a pertencer à ordem dos advogados, dos engenheiros, dos médicos, dos enfermeiros, aos sindicados ou inscrevemo-nos como sócios de clubes desportivos e/ou culturais.

Esta busca pela integração em diversos grupos justifica, por si só, o aparecimento de colectividades, clubes restritos e/ou organismos com características específicas e particulares.

Neste contexto e dando seguimento a iniciativas que remontam a séculos passados, surgiram duas espécies de eventos culturais, com conceitos e objectivos distintos. Falo das tertúlias e dos saraus.

Ignorando os aspectos sociais-elitistas que estiveram na génese de ambos os movimentos e cingindo-nos apenas às fórmulas, devemos ter em conta que os saraus surgiram com base mais performista e as tertúlias com cunho de debate. Isto é, enquanto nas tertúlias os intervenientes dialogavam sobre temáticas específicas e limitavam-se a argumentar sobre o assunto dessa tertúlia, nos saraus era possível escutar música, ouvir poesia e assistir a pequenas peças de teatro. Enquanto nas tertúlias variavam, a cada encontro, o tema a discutir e incentivavam o aparecimento e intervenção de novos tertulianos, nos saraus não havia rigidez temática mas as performances limitavam-se a dois três "artistas" da moda.

Serve esta pequena e resumida comparação para explicar a proliferação errada das tertúlias e o quase desaparecimento dos saraus, sendo que o aumento de um e a diminuição de outro devem-se, única e exclusivamente ao desconhecimento, daqueles que os promovem e/ou frequentam, sobre como cada um deles deve ser organizado. A confusão é tal que, hoje em dia, dá-se o nome de tertúlia a todo e qualquer encontro de autores e depois, aqueles que aparecem para uma verdadeira tertúlia são confrontados com saraus de poesia onde, regra geral, se assiste a um desfile de vaidades por membros de um grupo específico, quase elitista.

Felizmente ainda há verdadeiras tertúlias onde podemos exprimir as nossas opiniões sobre temas específicos sem nos preocuparmos com a nossa condição de autor e/ou leitor. E eu, como tertuliano que me quero e considero, não perco a oportunidade de chamar os "bois pelos nomes" e aponto o dedo de peito aberto.

MANU DIXIT

2 comentários:

  1. São precisamente esses desfiles de vaidades e a pequenez de tantos que se acham muito mais do que aquilo que são (e se diminuem ao engrandecer-se) que me afastam de tais grupos!

    Fazes bem em chamar os bois pelos nomes! Se eles os têm, há que chama-los!

    :)

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    1. Um dia, alguém há-de beneficiar com esta minha postura.
      Grato pela visita comentada.
      Abraço.

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