domingo, 9 de fevereiro de 2014

EU FALO DE... LARÁPIOS

Ontem em conversa com uma autora, fiquei a saber que no dia do lançamento do seu mais recente trabalho, aquando do balanço final sobre as vendas, o editor foi confrontado com uma diferença entre o dinheiro em caixa e os livros em falta. Tendo em conta que já não é o primeiro caso que chega ao meu conhecimento, sou impelido a tecer algumas considerações sobre esta situação que parece começar a ser recorrente. E, meus amigos, não estamos a falar de um ou dois livros mas de números bem superiores.

Como tenho afirmado várias vezes, o facto de comparecermos num evento não nos obriga a comprar seja o que for. Sendo verdade que as vendas nos eventos são importantes, não é menos verdade que a simples presença é muito gratificante para o autor. E neste assunto sinto-me perfeitamente em condições de poder opinar neste sentido porque, em primeiro lugar, já aconteceu em eventos meus aparecerem pessoas para simplesmente me darem um abraço sem terem comprado o livro, em segundo lugar e devido à minha condição de desempregado, nem sempre me é possível comprar o livro, mas isso não me impede de aparecer nos eventos.

Analisando cruamente a questão e colocando-me no lugar de cada um dos afectados tenho de dizer que:

a) não gostaria de estar na pele dos editores na hora de se verem confrontados com este género de situações. Acredito que deve ser tremendamente frustrante e incómodo ter de informar os autores que alguém pegou em livros sem pagar.

b) não gostaria de estar na pele das pessoas que ficam nas bancas a vender os livros e no final ficar a saber que alguém, com um acto incorrecto, para não dizer criminoso, colocou a sua honestidade e competência em causa.

c) não gostaria de estar na pele de um autor ao receber esta noticia porque, em circunstâncias normais, as pessoas que aparecem são, aos seus olhos, gente boa e insuspeita.

d) quanto aos infractores... nem consigo imaginar-me a fazer algo semelhante. No entanto devo dizer que estes actos nada mais são do que um aproveitamento da boa fé da pessoa que está a vender, uma enorme indiferença pelo trabalho de várias pessoas que fazem muito em prol da cultura, muitas vezes por mera carolice, e uma tremenda falta de respeito, para não dizer traição, ao autor, afinal o motivo principal para estarem num evento.

Para finalizar e sem querer fazer o papel de moralista porque sou perfeito nas minhas imperfeições, resta-me dizer que não encontro razões que justifiquem estes actos. Acredito que é mais vergonhoso ROUBAR um livro do que aparecer no evento e sair tal qual se entrou. Mas isso digo e faço eu porque gosto de andar de cabeça erguida.

Acho que vou começar a ficar de olho nas bancas não vá aparecer alguém que prefira andar com os olhos no chão.


MANU DIXIT

8 comentários:

  1. É chocante... sem mais palavras. Faço das tuas palavras minhas, em todos os sentidos. A presença é o baluarte de cada sessão. Se não podem comprar não compram, evidentemente. Meu abraço.

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    1. Todos os autores que já editaram sabem que, para memória futura, fica sempre aquele abraço de incentivo e ninguém se quer recordar de um evento por uma situação destas.
      Aquele abraço Poeta!

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  2. Como sempre um artigo real e bem traçado para refletir. Até à pouco tempo eu pensava que isso não era possível...ingenuidade, talvez?!
    Em 2012 no lançamento de uma antologia numa livraria num centro comercial, estava eu com o meu livrinho (comprado) quando uma coautora me pediu um autografo e eu deixei o meu livro ao lado e começo a escrever no livro da amiga, quando alguém me pergunta:
    - Conheces aquele senhor? Ele leva o teu livro.
    E lá ia o senhor de livro na mão a sair de mansinho. Fiquei sem reação e foi essa amiga que foi atrás dele e lhe tirou o livro.
    Bem uma livraria no mês de Natal num centro comercial, um mero desconhecido. A situação ainda serviu para me rir...

    Em 2013 num lançamento de uma outra antologia em que estive na mesa no museu João Mário em Alenquer eu tinha 3 livros. No final entre os autógrafos e os abraços os livros por alí ficaram até que foi recolher as minhas coisas para me vir embora. E não é que os livros tinha saído primeiro que eu!

    Como vês, parece que é natural esta coisa de livros com asas....

    É triste, muito mesmo tendo em conta tudo o que referiste antes....e nem só os livros voam mas ficamos por aqui que chega.
    Uma coisa vou tentar, estar mais atenta...mas na altura nem sei se me vou lembrar de tal coisa...

    Ana Coelho

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    1. Como é natural e compreensível, quando um autor está na sessão de lançamento do seu livro não espera uma atitude destas dos seus convidados, bem pelo contrário, quase põe as mãos no fogo por eles. O que é triste é um autor ver as mãos queimadas.

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  3. NO COMMENT...JÁ ME ACONTECEU, POR DISTRAÇÃO, TRAZER UM LIVRO A MAIS , DAQUELES A QUE TINHA DIREITO POR PARTICIPAR NUMA COLECTÂNEA, E AO PARTICIPAR O FACTO À EDITORA, OFERECEU-MO...TALVEZ AGORA ENTENDA PORQUÊ, E ESSE LIVRO PASSOU A TER UM VALOR ESPECIAL...

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    1. Infelizmente, devido à regularidade com que isto tem estado a acontecer e aos números de exemplares em causa, pode-se concluir que nestes casos não é "distracção" nem "acto inconsciente". E infelizmente também, esse acto de repor as coisas já escasseia. Daí a generosidade da editora para consigo. Bem haja pelo exemplo e obrigado pelo testemunho.

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  4. Bom artigo, Emanuel, que serve de alerta para quem anda nestas andanças.
    Eu sou tão ingénua que nem imaginava que alguém pudesse fazer isso, até saber dos "casos" que a Ana Coelho descreveu (e também de um outro, mais grave ainda e também mais delicado e "doloroso" porque nos saiu do bolso...).
    De modo que, a solução é ter-se muito cuidado e, realmente, não colocarmos as mãos no fogo por ninguém.
    Infelizmente, apresentações sem os livros estarem sempre com alguém de guarda durante a apresentação é estar a tentar os larápios.
    Depois, durante a venda dos livros, uma pessoa não chega porque também existem os "aproveitadores" da confusão.
    Enfim, é muito triste que tenha de ser assim mas "para grandes males, grandes remédios", não é verdade?
    Gente mal formada existe em todo o lado e nem todos gostam de andar de cabeça bem levantada.
    :-(
    É muito bom estes casos serem falados para que nos sirva de alerta e podermos tomar as devidas precauções.
    Obrigada, Emanuel, e bom Domingo.
    Beijinhos.

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    1. Infelizmente, cada vez mais, temos de ficar com um olho no burro e outro no cigano! E às vezes nem isso chega!

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