terça-feira, 23 de abril de 2013

EU FALO DE... ASSOCIAÇÕES CULTURAIS


No seguimento de mais um fim-de-semana dedicado, quase em regime de exclusividade, às causas literárias, decidi escrever um pouco sobre a importância das associações e grupos recreativos na manutenção de algumas tradições culturais.

Desde tempos remotos, o sentimento de comunidade, tão característico da raça humana, levou à criação de "organizações" que permitissem o estreitar de laços entre as pessoas e, acima de tudo, dar resposta a algumas necessidades mais sociais e económicas.

Não sendo uma regra generalizada, a criação de associações culturais, grupos recreativos, grémios, clubes e academias, visava sobretudo a angariação de verbas para construção de equipamentos de carácter mais social e desta forma ajudar as comunidades mais desfavorecidas e carenciadas: criação de creches, parques infantis, lares de acolhimento, etc.

No entanto, e com alguma lógica, essas agremiações não seriam bem sucedidas nos seus intentos sem a criação de actividades paralelas que lhes permitisse ter alguma visibilidade juntos das comunidades onde estavam inseridas e um acompanhamento permanente por parte da população. Deste modo começaram a surgir algumas iniciativas como os bailes, sessões de fado, cinema, teatro, jogos tradicionais ou socio-culturais, só para dar alguns exemplos, numa tentativa de aproximar as causas às pessoas mas também trazer pessoas para as causas.

Com o passar do tempo, já diz o velho ditado “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, perderam-se muitas dessas colectividades e com elas algumas iniciativas que cativavam as pessoas e permitiam que interagissem entre si. Falo por exemplo nos jogos florais, que sempre foram muito apreciados pela rapaziada nova que, aproveitando a ocasião, se declaravam às raparigas através das pequenas quadras que faziam, supostamente, para participarem nos concursos, e da oralidade poética, uma tradição com fortes raizes populares e que são a génese da poesia portuguesa: veja-se o trovadorismo.

Mas apesar da evolução natural das coisas e da extinção de muitos locais mais tradicionais e com forte componente cultural, a verdade é que ainda existe muito boa gente que, com paixão e muita carolice, criam novas associações em benefício das tradições culturais, não as deixando morrer. E ainda bem que o fazem.

Tanto os jogos florais como a tradição poética oral ainda podem ser encontradas em muitos eventos organizados por associações culturais, um pouco por todo o país. E as portas estão sempre abertas para todos aqueles que gostam de ouvir e/ou escrever poesia. Mas não se desiludam os que têm outras preferências literárias porque também existem eventos em que é dado maior destaque às criações e ao criadores de prosa. Basta procurar, pesquisar, demonstrar interesse e participar, nem que seja como mero espectador.

E hoje trago este tema à baila porque no passado sábado, a convite da Associação Cultural – Palavra Cantada e das suas dinamizadoras Maria Celeste e Maria Gomes, assisti e participei num belíssimo evento onde a poesia foi rainha e senhora e verifiquei, in loco, a fortíssima adesão que este género de iniciativas provoca. Entre autores e meros apreciadores da poesia dita, encheu-se o Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.

Quando à paixão por uma causa se adiciona a vontade e interesse de um público conhecedor e sem preconceitos elitistas, o resultado só pode ser a criação de um ambiente saudável e enriquecedor.

Bom seria que todos os eventos fossem assim!

MANU DIXIT

2 comentários:

  1. Olá amigo Emanuel, senti cada palavra que aqui li, nesta escrita verdadeira e sábia, concordo plenamente, aproveito para felicita-lo e agradecendo em nome da "Palavra Cantada-Associação de Cultura", bem haja o amigo e todos quantos a representam, divulgam e a levam a concretizar eventos culturais como este de que aqui fala, só unidos damos voz à palavra, beijinhos

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    1. Maria Gomes! O trabalho que vocês fazem merece o apoio e respeito de todos os que abraçam a cultura.
      Beijo.

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