terça-feira, 30 de abril de 2013

EU FALO DE... PLÁGIO


Em 2010, logo após eu ter lançado o meu primeiro livro, fui aconselhado por um autor brasileiro a deixar de colocar nos espaços da internet os meus textos originais. Foi-me dito que o simples facto de ter passado a ser autor editado me transformava num alvo mais apetecido para os plagiadores. Segundo as suas palavras, todos aqueles que fazem uso do plágio, para colmatar a sua escassez e preguiça criativas, vêem os textos de autores editados como uma garantia de aceitação por parte das editoras.

Com o capital de experiência que entretanto adquiri, hoje reconheço a ingenuidade da pergunta que fiz perante aquele cenário que me era apresentado. Então as editoras sujeitam-se a publicar plagiadores? A resposta na altura não podia ser mais directa: SIM!

De então para cá, por diversas razões e diferentes circunstâncias que não me interessam revelar, tenho confirmado a veracidade das explicações que me foram dadas na altura. Aquela que mais me surpreendeu mas que infelizmente quase ninguém faz caso é a inexistência de uma cláusula nos contratos editoriais a precaver situações de plágio. Contam-se pelos dedos de meia mão as editoras que estabelecem como cláusula fundamental a responsabilização do autor pela utilização de trabalhos alheios.

Ao longo destes últimos três anos, já tive nas mãos contratos de edição de várias chancelas e apenas em duas ocasiões a editora salvaguardava contratualmente qualquer implicação recorrente de plágio ou violação de direitos autorais indevidos, sendo que uma dessas vezes foi ontem.

De uma forma que creio natural, durante este meu percurso como autor, tenho-me movimentado com alguma regularidade pelos bastidores literários e deparado com casos de plágio que, com maior ou menor dificuldade, têm sido detectados. Dentro deste lote, aquilo que mais me incomoda é a completa falta de ética de alguns autores que, mesmo tendo conhecimento da prevaricação e aproveitando a tal inexistência de cláusula dissuasora, decidem editar obras plagiadas. Por outro lado, acho que é inaceitável que um editor se sujeite, por omissão contratual, a compactuar com este género de situações. Isto para não falar daqueles que, sabendo de antemão que a obra é plagiada, temos um caso recente e muito comentado, conseguem demonstrar a verdadeira natureza do seu envolvimento no panorama literário.

O mais chocante, se é que ainda há quem se sinta chocado com estas coisas da literatura, é saber que existe um autor bem mediático que usando de algum engenho mas pouca correcção, tem construído a sua obra à base de material alheio, recolhido em bibliotecas e acervos históricos de jornais e publicações regionais, dando como sua propriedade intelectual todo e qualquer texto anónimo encontrado. Chegando a cair no rídiculo de dar como seus alguns textos com datas anteriores ao seu próprio nascimento. Tanto ou mais grave é a complacência de uma chancela que fecha os olhos a isto apesar da responsabilidade que tem no panorama editorial português.

Perante este cenário, não é de admirar que existam opiniões muito corrosivas contra o universo de autores e editores, pondo-os todos no mesmo saco,  mesmo aqueles que, contra tudo e contra todos, tentam fazer um trabalho honesto e eticamente correcto. Como se costuma dizer: paga o justo pelo pecador.

MANU DIXIT

 

sábado, 27 de abril de 2013

EU FALO DE... EXERCÍCIOS CRIATIVOS II


Como referi num artigo anterior, seja qual for o estilo de escrita, é fundamental que cada autor ganhe o hábito de exercitar a sua arte tendo em vista o melhoramento e evolução. Nesse artigo fiz referência a exercícios com forte componente de estímulo exterior ou sugestionamento. Hoje quero falar-vos de outros de carácter mais individualista e apetência criativa que, pela sua especificidade, permitem aos autores exercitarem-se vocabularmente.

Sendo, por natureza, considerados géneros menores da poesia, dois dos exercícios que vos quero falar hoje não são tão fechados e rígidos, bem pelo contrário, e acabam por ser mais acessíveis aos prosadores.

O primeiro, e talvez o menos desconhecido, é o acróstico. Nesta composição, o autor deve partir de uma ou mais palavras-chave (colocadas verticalmente) e desenvolver um texto coerente, como se tratasse de uma definição, em que cada verso começa por uma das letras da palavra ou palavras-chave.

Dou-vos um exemplo simples, sem grandes floreados técnicos:

A ssim
M orrem
O s
R omânticos

Este género de exercicio permite, no entanto, textos de maior complexidade como este meu poema de 2009:

DISCURSO III (2009)

D isposição prosaica de hostil engano
E mprego abusivo de ilusórios motes
U fana indiferença do sacro profano
S inónimos ocultos de outras sortes
 
E rradas pronuncias extra culturais
R uminações de palavras ignoradas
R efrear de ímpetos em tudo banais
A lienação por tentativas falhadas
 
T estemunhas de acções possíveis
A menizar da sublevação plebeia
M arginalizar o afamado problema
B eligerância entre seres passíveis
E stupro de valiosa e crente ideia
M etida na margem deste poema
 
Num patamar diferente mas também de grande utilidade estimulativa está o tautograma, composição poética cuja regra principal é que todo o texto seja composto de palavras iniciadas com a mesma letra. Exemplo:

 

A Ana acorda ansiosa
adora amoras azuladas
algumas, azedas, arrepiam
ainda assim atira-se
às amoras azuladas.
 
Sendo mais exigente pela limitação proposta, o tautograma é flexível e permite a utilização de artigos definidos, preposições e pronomes. Exemplo:

 
O Paulo precisa passar pelo portão que permite passear pelo prado. Passo a passo, pontapeia pedras, projecta pedrinhas, pula pedregulhos, pisa poças pondo os pés perfeitamente paralelos. Passeando pelos prados, Paulo, paulatinamente, percebe a presença de Pedro, parceiro preferido das patifarias. Que par!

 
Como podem verificar, este acaba por ser um exercício muito mais adaptável aos prosadores pela dificuldade rimática que encerra, embora não seja de todo impossível fazer um tautograma rimado. Já li textos lindíssimos escritos neste registo.

 
Por último quero fazer referência aos poemas de rima única cujo maior mestre foi Ruy Belo. Este grande nome da poesia portuguesa deixou algumas pérolas neste registo e, apesar da inexistência de regra rimática, fazia questão de utilizar apenas advérbios como rima. Tal como fiz com o acróstico, dou-vos um poema meu, de 2009, como exemplo:

 
EXERCÍCIO III (2009)
 
Quando as tropas de Junot chegam a Alpiarça
O capitão de Villepin junta-as na praça
E com o seu vozeirão feroz não disfarça
O quanto odeia os portugueses: - Que raça!
Nas ruas não há vivalma nem sinal da populaça
- Onde se meteu este povo? Onde anda a gentaça?
Seus olhos de águia estancaram numa vidraça
Onde se afilavam os rostos da mulheraça
Villepin dirigiu-se ao casebre de argamassa
Vislumbrou uma bela e encantadora louraça
E na sua voz de trovão perguntou: - Que se passa?
Ao seu sotaque carregado, a moça achou graça
E respondeu afoita. - Nada digo, faça o que faça!
O capitão enfurecido faz-lhe um gesto de ameaça
Ela não se intimida: - A nossa vida já é uma desgraça!
Villepin admira a coragem da menina “olhos de garça”
E pede gentilmente um pouco de pão, ela dá uma carcaça
- É tudo o que temos para dar, a comida é escassa!
Mas Villepin é um homem avisado e vê a fumaça
Ouve o crepitar da lareira e cheira a carne que assa
E sorrindo diz: - Ma Cherie, eu não tolero trapaça!
Ele sente que a moça desarma: - Não há por aí vinhaça?
Ela sorri e responde: - Só se vós beberdes pela cabaça!
Nesse instante ouviu-se um grito, tremenda arruaça
Villepin vê um soldado atrás de uma moça descalça
Como um predador atrás de uma presa que caça
Depressa a alcança e com seus fortes braços a enlaça
A moça tenta livrar-se do soldado de farta bigodaça
Mas este depressa é ajudado por um comparsa
A menina de Villepin murmura: - Vai haver desgraça!
E grita para o capitão francês: - Acabe com esta farsa!
- Quoi? - pergunta Villepin quase enfeitiçado: - Ah ça! 
E grita para os soldados com a sua voz que trespassa
Agradecida, a moça loira serve-lhe vinho numa taça.
 
Os exemplos estão dados! Agora cabe a cada um de vós dar uso, ou não, a estes e outros exercícios. Força nas canetas e muita inspiração!

MANU DIXIT

quinta-feira, 25 de abril de 2013

EU FALO DE... LÍDIA BORGES

 

Mais uma vez é com grande orgulho que vejo uma das passoas, cuja escrita muito admiro, ser galardoada com um prémio literário, neste caso o Prémio Maria Ondina Braga - poesia 2013

A escritora/poetisa Lídia Borges, autora do livro NO ESPANTO DAS MÃOS - O VERBO, viu o júri do referido prémio agraciar a sua obra inédita, SEMENTES DAQUI, com unanimidade dos votos, num universo de 57 trabalhos propostos a concurso.

Quando questionada sobre a importância de receber esta distinção, Lídia Borges disse que esta atribuição vinha aquietar algumas das dúvidas que tinha em relação à sua escrita, nomeadamente, no que à qualidade dizia respeito.

Conhecendo a poesia, desta autora de Braga, e sendo um assumido admirador desde que travei contacto com a sua escrita em 2009, devo dizer que apenas me surpreende a demora no reconhecimento que merece.

Tal como fiz questão de expressar em mensagem enviada à autora, mal soube desta atribuição, fico muito contente por saber que o meu gosto pela sua escrita não é um mero capricho pessoal mas sim uma opinião partilhada e há muito devida.

Lídia Borges tem uma forma de escrever muito marcada pela simplicidade de discurso apesar dos conceitos e ideias abordados serem, nitidamente, alvo de depurada reflexão. Demonstrando uma apetência pelos temas de carácter humanista, não deixa de ser visível o cuidado em revelar a alma universalista do seu EU poético dando-lhe importância igual à que dá aos elementos da natureza, que também marcam a sua poesia, tão a seu gosto.

Finalizo este meu artigo reforçando os meus parabéns à autora Lídia Borges, pelo prémio recebido, desejando-lhe que muitos mais se sigam. A qualidade da sua poesia é digna de tamanhas distinções.

MANU DIXIT

terça-feira, 23 de abril de 2013

EU FALO DE... ASSOCIAÇÕES CULTURAIS


No seguimento de mais um fim-de-semana dedicado, quase em regime de exclusividade, às causas literárias, decidi escrever um pouco sobre a importância das associações e grupos recreativos na manutenção de algumas tradições culturais.

Desde tempos remotos, o sentimento de comunidade, tão característico da raça humana, levou à criação de "organizações" que permitissem o estreitar de laços entre as pessoas e, acima de tudo, dar resposta a algumas necessidades mais sociais e económicas.

Não sendo uma regra generalizada, a criação de associações culturais, grupos recreativos, grémios, clubes e academias, visava sobretudo a angariação de verbas para construção de equipamentos de carácter mais social e desta forma ajudar as comunidades mais desfavorecidas e carenciadas: criação de creches, parques infantis, lares de acolhimento, etc.

No entanto, e com alguma lógica, essas agremiações não seriam bem sucedidas nos seus intentos sem a criação de actividades paralelas que lhes permitisse ter alguma visibilidade juntos das comunidades onde estavam inseridas e um acompanhamento permanente por parte da população. Deste modo começaram a surgir algumas iniciativas como os bailes, sessões de fado, cinema, teatro, jogos tradicionais ou socio-culturais, só para dar alguns exemplos, numa tentativa de aproximar as causas às pessoas mas também trazer pessoas para as causas.

Com o passar do tempo, já diz o velho ditado “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, perderam-se muitas dessas colectividades e com elas algumas iniciativas que cativavam as pessoas e permitiam que interagissem entre si. Falo por exemplo nos jogos florais, que sempre foram muito apreciados pela rapaziada nova que, aproveitando a ocasião, se declaravam às raparigas através das pequenas quadras que faziam, supostamente, para participarem nos concursos, e da oralidade poética, uma tradição com fortes raizes populares e que são a génese da poesia portuguesa: veja-se o trovadorismo.

Mas apesar da evolução natural das coisas e da extinção de muitos locais mais tradicionais e com forte componente cultural, a verdade é que ainda existe muito boa gente que, com paixão e muita carolice, criam novas associações em benefício das tradições culturais, não as deixando morrer. E ainda bem que o fazem.

Tanto os jogos florais como a tradição poética oral ainda podem ser encontradas em muitos eventos organizados por associações culturais, um pouco por todo o país. E as portas estão sempre abertas para todos aqueles que gostam de ouvir e/ou escrever poesia. Mas não se desiludam os que têm outras preferências literárias porque também existem eventos em que é dado maior destaque às criações e ao criadores de prosa. Basta procurar, pesquisar, demonstrar interesse e participar, nem que seja como mero espectador.

E hoje trago este tema à baila porque no passado sábado, a convite da Associação Cultural – Palavra Cantada e das suas dinamizadoras Maria Celeste e Maria Gomes, assisti e participei num belíssimo evento onde a poesia foi rainha e senhora e verifiquei, in loco, a fortíssima adesão que este género de iniciativas provoca. Entre autores e meros apreciadores da poesia dita, encheu-se o Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.

Quando à paixão por uma causa se adiciona a vontade e interesse de um público conhecedor e sem preconceitos elitistas, o resultado só pode ser a criação de um ambiente saudável e enriquecedor.

Bom seria que todos os eventos fossem assim!

MANU DIXIT

terça-feira, 16 de abril de 2013

EU FALO DE... DESCONHECIMENTO QUE ME TÊM


Desde que reformulei este blogue e lhe dei esta utilidade, se é que lhe pode ser dada alguma, tem sido muito interessante e, por vezes engraçado, sentir o retorno de quem lê o que aqui se escreve. E não me refiro aos comentários no próprio blogue. Falo dos e-mails, das mensagens no Facebook e de conversas cara-a-cara.

Na generalidade dos casos, são-me dados os parabéns pelos temas dos artigos mas há alguns que vão mais longe e tecem alguns comentários ao que aqui se escreve. Também me são explicadas as razões para não deixarem comentários no post a que se referem e eu só tenho de respeitar essas decisões.

Mas não é sobre nenhuma das reacções que acabei de enumerar que quero incidir o foco da minha reflexão. Hoje pretendo fazer alguns esclarecimentos sobre determinadas rúbricas e mim próprio.

Aqueles que acompanham com alguma regularidade o que aqui é publicado sabem que volta e meia são colocados textos de outras pessoas e algumas entrevistas feitas por mim. Muitos têm-me questionado se essas rubricas deixaram de existir, uma vez que são cada vez mais raros esses artigos. A resposta é negativa porquanto tenho continuado a contactar outros autores para escreverem sobre literatura e solicitado algumas entrevistas. O que se passa é que toda a gente é livre de aceitar, ou não, colaborar com este blogue e tenho recebido algumas respostas negativas às solicitações. Mas de certeza que mais artigos e entrevistas estão na forja e a seu tempo serão colocadas aqui. E para que não restem dúvidas, volto a dizer que, independente de concordar ou não com as opiniões que cada um defender no seu artigo, assumirei sempre a minha responsabilidade pela publicação desses textos, como assumo a paternidade dos meus.

E aproveito a embalagem para dizer a quem estiver interessado em colaborar com o blogue que as portas estão abertas a todos. Só existe a condição de virem assinadas e acompanhadas de uma foto.

Feito o esclarecimento sobre os artigos de opinião de outros autores e as entrevistas, passemos agora a falar de mim.

Muitos têm feito referência ao facto de todos os meus artigos serem ilustrados com a minha foto. A razão não podia ser mais simples: é a minha forma de dizer que assumo tudo o que escrevo e dou a cara pelas minhas opiniões. Aqueles que não me conhecem e quiserem abordar-me directamente sobre qualquer dos artigos têm assim um rosto para me poderem identificar.

Existem algumas pessoas que me têm acusado de fazer passar a imagem de alguém magoado e ressentido com o universo dos livros e de estar a fazê-lo de forma demasiado auto-centrada. Pois bem, é verdade que existem bastantes coisas no mundo dos livros que me incomoda, também é verdade que fico magoado e ressentido por situações que mereciam outro género de abordagens por parte dos elementos que compõem o universo literário, no entanto, ao contrário do que podem pensar, e alguns sabem bem da verdade daquilo que vou dizer, tenho utilizado situações de índole pessoal apenas como ferramenta para exemplificar condutas e comportamentos que são recorrentes e que me merecem reparos. Não se trata de auto-centrismo nem de ego desmesurado. Acredito que seria muita indelicadeza da minha parte utilizar situações semelhantes, mas que me são alheias, para ilustrar os meus pontos de vista. Ainda para mais sabendo que todas as situações a que faço referência não me afectam em nada porque assim me aculturei.

Sei que a minha imagem mais egocentrista, que sempre assumi, pode levar muita gente a ver as minhas crónicas dessa forma mas aqueles que pensam assim, em definitivo, não me conhecem. Tenho o culto do egocentrismo enraizado em mim mas nunca lhe dei o uso mais depreciativo que o conceito encerra. Tenho uma percepção de ego que se limita à auto-valorização íntima e como forma de auto-motivação. Tenho um ego grande porque para poder gostar dos outros aprendi a gostar de mim e nessa aprendizagem apaixonei-me por aquilo que me tornei.  E se muitas vezes digo que determinadas situações me alimentam o ego quero apenas dizer que cada vez mais gosto de mim.

Por outro lado, e regressando ao auto-centrismo, todo o alarido, todas as manifestações de desagrado e repúdio que faço nos meus artigos têm como objectivo alertar os mais despreparados, os menos atentos, os mais amorfos. A minha intenção principal é abrir caminhos para os debates saudáveis e fazer com que as pessoas usem as suas próprias cabeças tal como eu dou uso à minha. Creio que, com a experiência que já acumulei, posso e tenho o dever de ajudar outros na compreensão de situações mais dúbias e mudar as coisas. Ou pelo menos tentar a mudança, principalmente de mentalidades e comportamentos. Não sou nem nunca fui um inactivo e, vale o que vale, tenho as minhas convicções pelas quais dou a cara e luto. Também me apraz dizer que, contra muitas das opiniões que me chegaram de viva voz, enquanto autor tenho já um universo de leitores muito interessante e que ultrapassa, para surpresa de muitos, as nossas fronteiras geográficas. Tenho enviado muitos livros, especialmente os anteriores, para outros pontos do globo e, aliás, tem sido essa a razão que me faz aguentar um pouco melhor esta minha condição de desempregado.

Para terminar e porque no início deste artigo falei em situações engraçadas, tenho de dizer que me dá um gozo imenso e acho piada quando noto que, muitos daqueles que à partida tinham a quase obrigação de conhecer-me de ginjeira, afinal de contas desconhecem-me completamente e têm revelado muita surpresa pelo teor dos meus textos. Um homem não se define apenas e só pelos comportamentos que tem nos jantares de amigos, nas tertúlias e eventos culturais, pelas conversas mais ou menos melosas que tem nem pela quantidade de fotos em que aparece rodeado de gente bonita. Um homem não se define simplesmente por uma imagem que passa ou pela ideia generalizada que várias imagens podem produzir. Um homem também se define pela postura social, crítica e de pensamento. Um homem também se define pelas ideias que tem e pela forma como as expõe, argumenta e defende. A definição de um homem não pode ser feita apenas e só tendo por base um dos lados que o compõem. O homem deve ser definido pelo seu todo e nunca pela metade. E acho muita piada que muitos me definam por um décimo daquilo que sou. O Emanuel Lomelino não é só aquele sujeito bem disposto, brincalhão e divertido. Tampouco é somente o namoradeiro, insinuante e provocador. Também não sou só o autor, criativo e resistente a que me chamem poeta. Sou também o homem de causas, de opinião e de crenças. Sou também o teimoso assumido, o persistente, o que diz o que tem a dizer. Sou a soma de virtudes e defeitos, sou o produto de coerências e desencontros. Simplesmente sou por inteiro.

Quem me conhece de verdade sabe que nunca liguei a opiniões exteriores e pouco me importa o que dizem e pensam de mim porque acredito que (alguns provavelmente já estarão a rir porque sabem qual a frase que vou usar) só me pode fazer mal aquilo que eu deixar. Eu eu nunca deixo que me façam mal.
MANU DIXIT

domingo, 14 de abril de 2013

EU FALO DE... CRISE


A minha grande dificuldade ao iniciar este artigo foi saber que título lhe dar. Sobre este tema já muito tenho dito e escrito e continuarei a falar dele, tal como diz o velho fado, até que a voz me doa.

Numa época em que, por tudo e por nada, todos se lembram de mencionar a crise como factor disuasor para explicar a sua própria inacção, os sinais que passam são de crise sim, mas de valores morais e de carácter.

A hipocrisia, outrora um defeito vil, mesquinho e condenável, hoje em dia parece ter-se transformado numa das características genéticas principais da generalidade das pessoas.

Já ninguém se importa muito em ter seriedade e lisura na sua forma comportamental e, cada vez mais, parece existir o culto do negativismo e bota-abaixo.

A mentira de perna curta impera como se de um virus se tratasse porque a maioria fecha os olhos quando confrontado com estas atitudes.

Cada vez mais, existe a convicção que todos os meios são válidos para se ganhar notoriedade não interessando se esse destaque é alcançado à base de falsos argumentos e falsas acções.

Nos dias que vivemos deixou de ter validade a velha máxima "À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer". O que mais se vê é quem viva sob a ilusão do parecer quando a realidade é o oposto.

Ostentar virtudes e uma imagem imaculada apenas como maquilhagem parece estar a fazer escola na sociedade moderna e a generalidade das pessoas aplaude.

Mesmo correndo o risco de passar uma imagem de "velho do Restelo" tenho que dizer que não me identifico com esta forma de estar. Fui educado tendo por base valores morais e de comportamento que dão como preferenciais as atitudes positivistas, de tolerância, de honestidade, de transparência, de verdade e, acima de tudo, de saber estar em comunidade. Fui educado a negar valor à hipocrisia, à inveja, à mesquinhez, à mentira e, sobretudo, ao individualismo exacerbado. Sempre me ensinaram a dar mais importância a actos do que a palavras porque estas exigem muitas vezes o benefício da dúvida, enquanto que os actos são deixam nenhuma.

Sem falsos moralismos nem culto da perfeição, porque essa nunca existiu, e porque uma das coisas que menos me custa fazer é dar a mão à palmatória e assumir as minhas acções, mesmo as erradas (que são muitas), não posso deixar de ser crítico perante acções que contrariam as palavras que muitos fazem questão de alardear aos ouvidos dos incautos.

Tal como em outras ocasiões, volto a dizer que não é exigida a presença das pessoas em todos os eventos, para os quais são convidadas, tanto mais que é humanamente impossível fazê-lo. Mas não deixa de ser incompreensível que, quem mais se queixa de falta de eventos culturais, são aqueles que nunca marcam presença em nenhum apesar de, continuamente, afirmarem a intenção de comparecer neste ou naquele.

Dizer é fácil e fica bem aos olhos da generalidade das pessoas. Falar de intenções dá uma imagem empreendedora e de acompanhamento permanente das acções culturais. Mas não existe nada mais definitivo e revelador das acções do que as próprias acções.

Louvar um promotor de eventos pela forma apaixonada como os realiza e promove, falar-lhe da admiração que se tem por todo o empreendorismo, entrega e devoção à causa cultural, não passam de palavras. O maior louvor, a maior admiração que se pode outorgar é marcando presença.

Uma situação recorrente é fazerem-se acusações de “centralismo cultural”, que só se fazem eventos na capital e, quanto muito, no Porto, esquecendo as outras localidades. Normalmente faz-se a tal referência à crise porque “as distâncias são grandes” e “não há dinheiro para deslocações” ou “ainda se viessem aqui ou fizessem mais perto”. Tudo palavras vãs e falsas promessas.

Há quem faça, com muito esforço e amor à causa, que os eventos ocorram de norte a sul do país, levando autores ao encontro das pessoas, reduzindo distâncias e aproximando a cultura daqueles que tanto a exigem. Mas na hora marcada, no dia aconselhado, pura e simplesmente a confirmação de quão hipocrita está esta sociedade. Na hora de retribuir e louvar o esforço de quem é realmente empreendedor surgem as desculpas de sempre: “veio na pior altura”, “é a crise”.

Sim, o país está envolto numa enorme crise mas, ao contrário do que tanto se apregoa, essa crise é de valores morais e de comportamento. A maior crise que este país atravessa é de falta de vergonha e hipocrisia.

Apesar da minha assumida laicidade, sempre acreditei que Portugal tinha sido poupado por Deus no que a catástrofes diz respeito. Ao longo da história da humanidade todos os povos sofreram e ainda sofrem essas catástrofes. Alguns países sempre tiveram de lidar com as condições climatéricas difíceis e a época das monções ceifa vidas atrás de vidas. Noutros sempre existiu e existirá instabilidade cultural e económica que se refletem nas constantes e quase ininterruptas guerras tribais, étnicas e globais. Em determinados locais têm de lidar em permanência com secas extremas, vulcões, tornados, ciclones, tsunamis, contaminações de vária ordem, etc. Em Portugal não há nada disso. Este país foi poupado? A resposta é não! A grande catástrofe que Deus destinou ao nosso país é o povo que cá colocou.

MANU DIXIT

quinta-feira, 11 de abril de 2013

EU FALO DE... VOZES MOTIVACIONAIS



Todos os autores que arriscam apresentar o que escrevem, fora da sua zona de conforto, procuram factores motivacionais que justifiquem a continuidade produtiva. Aqueles que se preocupam em dar aos seus trabalhos um fio condutor, idealizando um rumo e dando à sua escrita, para além de características que a identifiquem, alguma coerência, sentem a necessidade de ouvir aqueles que os lêem. O retorno dos leitores é, portanto, fundamental.

Tal como fiz em outras ocasiões, usarei na abordagem desta temática a minha própria percepção e experiência, enquanto autor, para melhor conseguir explicar as ideias que aqui defendo. E faço-o porque as minhas verdades não são universais, cada um tem a sua, ou como diz Gisela Ramos Rosa: “A verdade é uma experiência íntima”. Adiante.

Os que acompanham a poesia que escrevo, já me ouviram falar, inúmeras vezes, daqueles que, desde a primeira hora, têm estado do meu lado e a quem eu sempre estarei agradecido pelo grande apoio e motivação que me dão.

No entanto, quando falo dessas vozes motivacionais, não me refiro a todos aqueles que se limitam a louvar a escrita, antes pelo contrário. Os alvos desse epíteto são aqueles que animam nas horas de desânimo mas também apontam defeitos nos momentos de euforia. Os que mais motivação me transmitem não são aqueles para quem tudo o que escrevo é bom e bonito, mas sim os que, quando a inspiração anda arredia, me dizem “avança, vai em frente, melhores dias virão”, e sabem apontar defeitos, indicar caminhos e apresentar alternativas sempre que detectam fragilidades nos meus textos. Vozes motivacionais são aquelas que sabem fazer o que atrás mencionei mas de forma construtiva. Fazem-no porque acreditam na validade do meu trabalho e é essa crença que me motiva a prosseguir esta caminhada pelo mundo da escrita.

Como exemplo do que acabo de dizer quero partilhar convosco uma situação que aconteceu alguns anos atrás. Estava eu a dar os primeiros passos na internet, publicava a minha poesia num blogue e o sonho de editar estava adormecido pelas frustrações de anos. Um dia, após postar um poema, recebi uma mensagem por mail de um senhor, que acompanhava o blogue com alguma assiduidade, no qual me era sugerida, através de argumentos fundamentados e sugestão de alternativas, uma pequena modificação no texto. Convencido da legitimidade do reparo e aceitando como válida uma das sugestões, fiz a alteração recomendada e ainda hoje, digo-o sem qualquer problema, esse poema, que incluí no meu primeiro livro, é um dos mais referenciados por quem me lê.

Este pequeno episódio - poderia dar outros exemplos idênticos - fez-me reflectir na necessidade de ouvir opiniões exteriores, o mesmo é dizer isentas, sobre tudo o que escrevo. Por essa razão, sempre que termino de escrever algo, faço questão de o mostrar a alguém, fora do meu ciclo mais próximo, e assim recolher informações que me ajudem a melhorar a cada texto.

Quando digo que busco opiniões fora da zona de conforto e ciclo mais próximo não estou com isto a desvalorizar as capacidades avaliadoras de quem lida comigo mais de perto mas, convenhamos, na maior parte das vezes essa proximidade inibe as pessoas de me transmitirem com mais objectividade as suas percepções.

Seja como for, e para terminar esta dissertação, resta-me dizer que é extremamente importante que cada autor procure filtrar, de todas as opiniões recebidas, aquelas que, com critério e racionalidade, podem ser uma mais-valia e manter essas vozes motivacionais activas e presentes no momento de criar. A evolução de um autor também depende disso.

MANU DIXIT

terça-feira, 9 de abril de 2013

EU FALO DE... EXERCÍCIOS CRIATIVOS


De um modo geral, as pessoas que gostam de escrever, seja em que registo for, fazem-no descontraidamente e sem propósito algum para além do simples prazer que o acto proporciona. Ao escrever, há quem encontre uma forma de catarse, um veículo condutor de reflexão ou mero exercício lúdico. Seja qual for a razão que leva alguém a escrever, é quase um dado adquirido que, com o passar do tempo, a acumulação de escritos e a evolução natural de quem escreve, cada um procure limar arestas e assim aperfeiçoar o seu estilo. Fazem-se experiências, incursões em géneros e temáticas distintas do habitual e, não raras vezes, buscam-se melhorias nos intercâmbios e parcerias. É nestes dois últimos aspectos que quero focar-me.

Um dos exercícios que me habituei a fazer passa por escrever tendo por base outras formas de arte: pintura, fotografia ou escultura. Não sobre o que vejo nessas imagens mas o que me inspiram. Com este género de exercício, busco diferentes abordagens para temáticas que me são próximas e para outras onde normalmente não me aventuro. É interessante verificar que, na maior parte das vezes que me proponho a estes exercícios, a diversidade vocabular dos meus textos aumenta, por exigência do objecto inspirador, e essa característica reflete-se, posteriormente, na poesia que escrevo.

Num patamar menos individualista está um outro exercício criativo, muito popular na blogosfera e nas redes sociais; o dueto. Embora grande parte do que é feito neste campo tenha mais de afectividade do que importância lírica, não é menos verdade que pode ser um estímulo importante não só para o acto de escrever mas também na busca de soluções inovadoras na escrita de cada um. Os desafios que se colocam num dueto nem sempre são afirmativamente correspondidos, por diversas razões, mas creio que o manancial de experiência que se adquire é importante, assim o entenda cada autor.

Ambos os exercícios que referi, têm particularidades muito próprias e os resultados não serão pérolas de escrita, no entanto, a sua função primordial é ajudar na busca de novos caminhos, novas soluções e aperfeiçoamento. Nem tudo o que escrevemos é qualitativamente aceitável mas é possível melhorar e uma das formas de o fazer é por tentativa e erro, e nesta perspectiva é melhor errar nestes exercícios do que em textos que se querem definitivos e definidores de uma obra.

MANU DIXIT

domingo, 7 de abril de 2013

EU FALO DE... CULTURA LITERÁRIA


Em regra geral, quando se discute literatura, as conversas giram em torno da qualidade do romancista A em comparação com o B, ou a técnica do poeta X em oposição ao Y. Sendo válidas e necessárias, estas abordagens pecam por uma grande incorrecção logo na sua génese que, para a maioria das pessoas, passa despercebida.

É normal, e já me tem acontecido, ouvir alguém dizer que "fulano" tem uma cultura literária muito grande porque conhece quase todos os romancistas importantes e consegue lembrar-se sempre de versos dos poetas essenciais. Isso para mim, apesar de demonstrar algum conhecimento, não é prova de cultura literária.  É evidente que quem tem um vasto saber, no que à escrita criativa diz respeito, consegue sempre passar a imagem de entendido e, aos olhos dos mais desatentos e leigos, transforma-se num género de "expert" cultural.

Mesmo podendo aprender muito com a leitura destes géneros literários, acho que é fundamental para o desenvolvimento cultural de um povo que também se leiam livros com maior assertividade educativa. Estou convicto da importância de se ler sobre ciências, filosofia, história, artes, etc.

Muitos podem dizer que a maioria dessas temáticas são abordadas em romances, contos, novelas e livros de poesia mas a grande verdade é que, por mais informativo ou didático que seja esse livro, as referências a outras áreas do pensamento são simples apêndices ou ferramentas de auxílio aos enredos. 

Ninguém se transforma em grande conhecedor de geografia ou tecnologia aeronaútica só porque leu os livros de Júlio Verne. Ninguém é perito em psicologia por ter lido Dostoievski. Quem leu toda a obra de Pessoa não é especialista em esquizofrenia. Nem quem leu Camões é entendido em mitologia.

Quanto a mim, e não sou o único a pensar desta forma, ter cultura literária é  bem mais do que ler Kafka, Dostoievski, Hemingway, Júlio Verne, Rimbaud ou Herculano, Garrett, Agustina, Pessoa e Camões.

Concordo que se debata as questões que diferenciam cada autor, seja romancista, poeta ou novelista, mas a literatura não se limita a estas vertentes da escrita, mais do foro criativo. O panorama literário é mais vasto e não se é mais culto que os restantes só porque lemos os clássicos.

A cultura literária constrói-se diversificando os nossos hábitos de leitura. Leiam os clássicos, os menos clássicos, os que nunca serão clássicos, mas não se limitem a isso. Expandam o vosso conhecimento lendo ensaios, biografias, livros de arte, ciências, história, filosofia, etc.

Saber nunca ocupou lugar.

MANU DIXIT

 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

EU FALO DE... GRAÇA PIRES


Na sequência do meu artigo anterior, quero falar-vos de uma autora que é para mim uma referência importante e cujo mais recente trabalho, CADERNO DE SIGNIFICADOS, teve a sua sessão de lançamento no passado sábado, dia 30 de Março, na Sociedade Guilherme Cossoul de Campolide.

Graça Pires é um daqueles nomes que, tal como referiu Maria João Cantinho na sua análise ao livro apresentado, não tem a exposição merecida devido à forma discreta como se movimenta no meio literário. Tanto a obra, quinze trabalhos publicados, como a dezena de prémios recebidos, são sinónimos da qualidade da sua poesia.

Tal como referi no meu texto anterior, existem autores que fazem trajectos paralelos aos consagrados mas que nem por isso deixam de ser uma referência importante para os seus contemporâneos. O caso de Graça Pires é sintomático e a prova do que digo está nos nomes que marcaram presença nesta sessão de lançamento. Pessoas como Inês Ramos, Gisela Ramos Rosa, Victor Oliveira Mateus, Maria Teresa Dias Furtado, entre muitos outros autores, não deixaram passar a oportunidade de homenagear esta enorme poeta dos nossos dias. 

Sem entrar em análises aprofundadas sobre a escrita de Graça Pires, limitar-me-ei a dizer que um dos grandes predicados desta autora reside na forma simples como nos transmite os seus pensamentos, ou como disse a própria, e passo a citar: "Eu escrevo de modo que o maior número de pessoas me consiga entender" - fim de citação.

Este seu jeito simples também está bem vincado na forma como interage com os seus leitores e confessos admiradores. Não fazendo distinção entre poetas, mais ou menos consagrados, e os restantes, nem se furtou à troca de palavras com nenhum dos que, pacientemente, esperavam a sua vez pelo tão desejado autógrafo.

Como disse anteriormente, Graça Pires é para mim uma referência e por essa razão lhe dedico um poema, no meu recém-editado POETAS QUE SOU. E esse facto, para grande orgulho deste vosso amigo, foi  mencionado pela autora ao revelar-me que, em conversa com o poeta Victor Oliveira Mateus, outra das minhas referências, abordaram esse meu trabalho e respectivos poemas. No fim da nossa pequena mas gratificante troca de impressões, Graça Pires dirigindo-se a um dos presentes, apontou para mim dizendo, e volto a citar: "Nunca pensei que tivesse um grupo de admiradores tão dedicado" - fim de citação.

Mais palavras para quê? Grandes pessoas têm grandes gestos.                  

MANU DIXIT

 

terça-feira, 2 de abril de 2013

EU FALO DE... AUTORES REFERÊNCIA


Ao longo da história da literatura portuguesa, foram muitos os autores que ganharam, por mérito próprio, o direito a serem apelidados de referências literárias. Nomes como Fernando Pessoa, Aquilino Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, Florbela Espanca, Lídia Jorge, José Saramago, Lobo Antunes, para referir apenas alguns, de uma lista interminável, são bons exemplos de autores referência, cada um no seu género e estilo.

Se por um lado temos aqueles autores que marcaram não só a sua época mas também as que se seguiram, não é menos verdade que, em paralelo, sempre existiram outros com menos destaque ou visibilidade mas com grande influência nos seus contemporâneos.

A generalidade das pessoas sabe que o grande Fernando Pessoa tinha uma forte admiração por Mário de Sá Carneiro, com quem se correspondeu frequentemente, pedindo-lhe, não poucas vezes, opiniões sobre os seus textos. O que a maioria desconhece é que existia um outro autor, quase ignorado nos nossos dias, pelo qual o poeta dos heterónimos nutria um fascínio ainda maior, tendo-o considerado um dos maiores nomes da poesia lusófona de sempre. Opinião partilhada por Teixeira de Pascoes. Ambos se referiam a Domingos Monteiro.

Convém dizer que este autor conseguiu a proeza de ser uma referência, para dois dos maiores vultos da poesia portuguesa, com apenas dois livros editados, o mesmo é dizer, com 18 anos de idade. Só trinta e dois anos depois da edição do seu segundo livro é que editou o terceiro, fazendo mais uma pausa de vinte cinco anos antes do quarto. Talvez por força destes hiatos, o seu nome é pouco conhecido e a importância da sua obra na história da poesia nacional seja vista como quase nula.

No entanto, e voltando um pouco atrás, essa escassez produtiva, pelo menos no que à edição diz respeito, não impediu que fosse para os seus contemporâneos um nome de referência.

Serve este resumido episódio da história para vos dizer que, nem sempre, são os grandes nomes, os mais consagrados, aqueles que mais influenciam uma época. E o exemplo que dei é apenas um dos muitos que poderia dar. Em vez de Domingos Monteiro, eu poderia ter falado de Tomaz Kim ou Mário Saa, só para mencionar mais dois nomes de poetas quase desconhecidos da maioria mas com grande impacto nos processos criativos de outros, cujos nomes são mais familiares nos dias de hoje, casos de Jorge Sena e Ruy Belo.

Puxando um pouco a brasa à minha sardinha, permitam-me que vos transcreva uma passagem do prefácio que o poeta Nuno Guimarães escreveu para o meu livro POETAS QUE SOU, que creio servir na perfeição para ilustrar esta minha tese:

“... Quantas e quantas vezes, são os nomes menos conhecidos que despoletam no poeta uma vontade de escrever. Quantas e quantas vezes, meia dúzia de palavras navegando entre mares encapelados de versos, trazem o sonho e levam o poeta a rabiscar.”

Acrescentarei apenas a minha forte convicção que, em todas as épocas e em todos os estilos literários, existem os grandes nomes que por mérito se transformam em referências mas todos eles beberam de outras fontes menos mediáticas ou visivéis.

 

MANU DIXIT