quarta-feira, 27 de março de 2013

EU FALO DE... FIASCO


Uma vez mais, senti a necessidade de escrever na sequência de um artigo anterior porque, por incrível que possa parecer para a generalidade das pessoas, ainda há quem, apesar de letrado, não consiga fazer interpretações correctas daquilo que escrevo.

No meu artigo anterior, sem ter entrado em detalhes, fiz questão de dizer que o evento de apresentação do meu livro, no Porto, tinha sido um fiasco no seu propósito. Pois bem, para aqueles que não sabem qual é o propósito de um evento do género, aqui fica um pequeno esclarecimento.

Quando um autor, editora, ou espaço, se propõe realizar uma sessão de apresentação, tem como finalidade dar a conhecer publicamente uma obra. Em circunstâncias normais, esse evento é pensado para um determinado público alvo, sendo que, na generalidade dos casos, esse mesmo público é conhecedor do trabalho do autor.

Considerando que eu, a editora e o Luis Beirão (responsável  do Olimpo) estivemos perto de um mês a fazer divulgação do evento, junto dos nossos contactos, ninguém se pode queixar de falta de informação e assim justificar a ausência.

Sim, o evento que nos propusemos realizar foi um fiasco! À hora marcada não havia mais ninguém para além de mim, do Luis e da Ana, ambos do Olimpo.

No artigo anterior eu referi que apesar do fiasco, a minha ida ao Porto tinha sido gratificante por ter conhecido duas pessoas fantásticas que, perante o cenário desolador, mesmo para eles, decidiram não perder a oportunidade de ter no seu espaço um autor de poesia e sugeriram-me que dissesse algumas palavras sobre o livro perante as pessoas que ali se deslocariam para um outro evento, este musical.

Foi para um público diferente que eu acabei por fazer a minha apresentação e, embora inicialmente, tenha sentido alguma resistência, o que é natural, aos poucos comecei a notar que estava a ganhar a atenção e o interesse dos presentes, e daí até à interacção total foi um passo. Não, não vendi um único exemplar. Mas nem só de livros vendidos vivem os autores. Aliás, são poucos aqueles que o conseguem fazer, ainda menos os que escrevem poesia. Mais importante foi o que ganhei.

Tenho a consciência que, para muitos outros autores, uma situação semelhante seria razão suficiente para desmotivar. Contudo, eu não sou "outros autores" e é preciso bem mais que um fiasco para me desmotivar. E a prova do que acabo de dizer é que já tenho agendado um evento em Braga, onde falarei de novo sobre o meu livro POETAS QUE SOU, seja para que público for, independente de vender ou não alguns exemplares.

Ao contrário do que já me disseram, ter considerado o evento um fiasco não é, de modo algum, uma ofensa para o Olimpo e seus responsáveis. A esses não aponto um dedo acusador. Não foi por eles que o evento fracassou. A culpa desse fracasso é essencialmente daqueles que tanto apregoam a falta de eventos literários e não aparecem. A culpa é daqueles autores que gritam ao mundo pela solidariedade dos restantes mas não retribuem. A culpa é daqueles que para se mostrarem socialmente activos fazem questão de dizer a meio mundo que vão a mil e um eventos e nos locais ninguém os vê.

Já disse várias vezes, e não me cansarei de repetir, a mim não me incomoda absolutamente nada a ausência, seja de quem for. Sou um positivista por natureza e apenas me pode afectar aquilo que eu deixar. Assim sendo, e para não me alongar mais neste tema, termino deixando um recado a todos os autores: façam-me o favor de não aparecer em Braga, a vossa falta não será sentida, mesmo que tenha de qualificar esse evento como um novo fiasco,no seu propósito.

MANU DIXIT 

  

20 comentários:

  1. Pois amigo é assim falasse muito faz-se pouco e de facto a culpa não de todo de quem promove ou de quem ajuda a levar uma autor a um local mas sim daqueles que se acomodam e apenas dizem que nada se faz pela cultura quando se faz ficam em casa ou sei lá onde mas não aparecem...

    Beijinhos

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    1. Só faz falta quem lá aparece!
      Em compensação, Domingo foi um êxito!
      Beijo

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  2. Apreciei bastante o sentimento. A culpa nem sempre vai direitinha ao ponto. FALA-SE muito, e FAZ-SE muito pouco. Na verdade, há quem julgue pelo tom com que se abre um discurso, um abuso, uma inconformidade que nem sempre está de acordo com o seu próprio discurso. Deveríamos ser mais humildes, para saber até onde podemos ir com esta "coisa" dos livros, que não é para todos, não , mas para quem tem a arte de saber levá-los, vendê-los, trocá-los ou então como diz o estimado poeta, falar de poesia e da alma que está em quem a escreveu. Esse é, deveria ser o objetivo de um novo autor. Infelizmente, acaba-se, ou começa-se sempre pelo final em tantas "coisas" da nossa vida. Mergulhei um pouco na minha experiência pessoa, para deixar este comentário, obviamente, porque de livros meus vendidos por mim, existem muito poucos, a não ser nos lançamentos, e, até quando penso nisso tremo, ao abrir um dos meus livros e ver que ainda faltava muito para o fazer chegar a alguém, muito menos a troco de alguns euros. Gostei da sua abordagem a esta necessidade urgente que os novos autores têm em saber quantos livros venderam. No meu último livros, também pedi para ir ao Porto, mas nunca me foi dada essa possibilidade pela falta de espaço (que a editora não tinha) e eu fui esquecendo. Também só lá queria ir, por isso mesmo, para estar com algumas pessoas amigas (poucas), que me pediram para ir. Vender os livros? Nada disso me iria dar prazer, porque ainda me falta saber escrever.

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    1. Dolores! O fiasco das vendas é uma realidade incontornável desta nossa condição de autores "menores" que, nem todos, sabem digerir. Sim, o evento foi um fiasco no seu propósito porque à hora marcada não estava ninguém. Mas a apresentação que fiz para pouco mais de meia dúzia de pessoas (que apareceram para outro evento) foi, sem sombra de dúvida, um momento inesquecível e muito gratificante.
      Sobre a falta de solidariedade autoral... já muito tenho escrito sobre isso e cada vez mais me convenço que a maioria não compreende que para se ter público tem de se ser público também.

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  3. Emanuel, eu também sou uma "positivista" por natureza e quando se fala de situações deste género dá-me sempre uma vontade enorme de rir porque me lembro de uma apresentação que fiz na Bulhosa de Entrecampos de um livro que coordenei (Heróis à Moda de Lisboa) em que os únicos presentes eram alguns do autores, não estava rigorosamente mais ninguém.
    Agora, sei porque é que isso aconteceu, o lançamento tinha sido no sábado anterior, com mais de 300 pessoas, e marcar nova apresentação logo para a 5ª.feira seguinte e à tarde foi muito mal pensado... tinham ido todos no sábado, claro.
    Mas acabou por ser hilariante porque, sem sermos nós, apenas andava por ali a passear um senhor a quem nós tentávamos chamar a atenção... para acabarmos por descobrir, no fim, que era o marido de uma das co-autoras presentes a quem não apetecia estar sentado.
    Esta cena vai ficar para sempre a dar-me cócegas no estomago, quando a recordo.
    :-)
    Mas, e agora a sério, recentemente tive outra situação em que eu ía apresentar um livro de um jovem autor açoreano (Rúben Correia) que nesse mesmo dia tinha sido recebido pelo Presidente da República e andou 3 dias nas televisões e rádios a falar do livro.
    O evento foi mais do que divulgado e chegámos ao local da apresentação só tínhamos uma senhora na assistência!
    Já um pouco depois da hora chega outra pessoa... ah, e o meu marido também estava lá a tirar fotografias (apenas à mesa, claro... heheheheee).
    O miúdo estava desolado e nem queria fazer a apresentação mas claro que eu lhe disse que nem que apenas estivesse uma pessoa a apresentação fazia-se na mesma!
    E acabou por se fazer tudo como se as cadeiras estivessem todas ocupadas e, no fim, aquelas duas pessoas sentiram-se especiais e estavam super felizes com a maneira intimista como a apresentação foi feita, especialmente dirigida a elas.
    :-)
    Tanto num caso como noutro podemos considerar fiasco ou ensinamento.
    Fiasco porque o propósito não foi alcançado, sem dúvida, mas ensinamento porque, no 1º.caso foi notoriamnete uma má opção mas no 2º.caso, se calhar, além de também ser má opção (à tarde, num dia de semana, numa Bertrand de um Centro Comercial pouco concorrido...) também serviu para o Rúben perceber que nem sempre as portas se abrem para ele e tem de aprender a lidar com essas situações.
    Mas é como dizes no cometário anterior "Só faz falta quem lá aparece!".
    Beijinhos.

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    1. Maria Eugénia!
      É precisamente por este género de situações serem recorrentes e acontecerem a autores como o Rúben ( assisti à apresentação de um livro dele em Lisboa) que me leva a falar e escrever muitas vezes sobre o tema porque é tremendamente desmotivante para um autor, ainda para mais sendo jovem, chegar cheio de ilusões e deparar-se com uma casa vazia. É por causa desses que eu falo e me recusarei calar perante a hipocrisia de grande parte dos autores que só olham o seu umbigo e nada fazem pelo crescimento de outros.
      Como sempre tenho dito, estas situações não me afectam em nada, tanto mais que, apesar de serem em número reduzido, tenho o meu universo de leitores e tenho encontrado quem me queira escutar. Mas nem todos encaixam com a mesma leveza os sucessivos fiascos que acontecem por culpa dos próprios autores.
      Beijo.

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  4. Olá, Emanuel!
    Também eu costumo dizer que «só faz falta quem está», mas reconheço que é preciso ter uma boa dose de maturidade para chegar a este estado. Não aparece do nada. Louvo a tua capacidade para fazer uma análise da situação, apesar da óbvia proximidade. Acima de tudo, louvo (e identifico-me!) com a tua postura otimista, com a tua persistência e com a tua vontante de arriscar,independentemente dos resultados.
    Beijinhos,
    Marta.

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    1. Marta! Um dos meus maiores defeitos é neste caso uma enorme qualidade: teimosia.
      Obrigado por mais esta visita.

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  5. Emanuel, Emanuel...
    Quem já não passou por este tipo de fiascos no que toca a apresentação de livros? Olha eu no que me toca, devo contar pelos dedos das mãos os que foram bem sucedidos, todos os outros; eu, o meu marido, os meus filhos lindos, a senhora do espaço, e uma empregada de limpeza que se lembrou de fazer uma pausa da vassoura...
    Depois chego a casa, vejo as fotos e apetece-me chorar e ao invés disso rio-me e digo aos meus filhos: Ainda bem que estava pouca gente, assim não corri o risco de vos perder no meio da multidão...

    Um abraço,
    Carla Pais

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    1. Carla Pais!
      Perde-se numas coisas, ganha-se noutras. E é a esses ganhos que eu dou valor.
      Obrigado pela partilha de experiência.

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  6. Boa Noite Emanuel...por razões profissionais não pode estar presente, no lançamento do teu ultimo livro. Aqui peço licença poética do teu livro (Duetos Lomelinos)e da tua nota a nota do autor...existe muitos fenómenos literários. Nascer- crescer-morrer. Este é o ciclo natural da vida. enquanto este ciclo não termina, existem muitos outros que se abrem e fecham ao sabor das vivências, dos nossos sonhos, dos nossos projectos.

    Com certeza...da vontade com que sentiste de licença poética, é a vida de um poeta com sentido de sentimentos poéticos na sua alma...vencerás amigo das palavras sentidas, não pode estar presente mas espero adquirir este teu ultimo livro de poesia, com uma dedicatória da tua alma poética.
    Um Abraço Fraterno
    Gilberto Russa

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    1. Gilberto! Os visados sabem quem são!
      Um grande abraço.

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  7. Amigo,
    Lamento essa falta de participação na apresentação, no Porto.
    E, muito sinceramente, concordo em absoluto que esse alheamento não se deve, nem ao Olimpo, nem à falta de divulgação. Deve-se sim, e tão só, ao desinteresse pela cultura, senão mesmo à incultura.
    Estou absolutamente convencido de que, se em vez da apresentação de um livro fosse anunciada a presença dum qualquer charlatão (daqueles que tomam assento em S. Bento), não se conseguiria entrar no Olimpo.´
    Não há dúvida "Cada povo tem o que merece".
    Um abraço
    Vítor Cintra

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    1. Poeta! Infelizmente tenho de concordar.
      Forte abraço.

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  8. Adorei ler-te Emanuel.
    Sabes e, creio que muitos sabem da amizade que nos une.
    Li e reli o que escreveste. Li os comentários.
    É um facto querida Amiga Eugénia que temos de dar um tempo entre um Lançamento e uma Apresentação.
    Também tenho verificado que muitas vezes o facto de ser divulgado com bastante tempo de antecedência, tem um efeito contrário ao pretendido.
    Nunca se pode saber antecipadamente qual a melhor forma de actuar... até porque se uma editora tem num mês vários eventos, muitas pessoas nem ligam.
    No teu caso Emanuel, sei que durante o tempo que mediou a abertura do evento e o mesmo, nunca ficou parado, assim não poderia de forma alguma cair no "esquecimento".
    Também estive presente numa Apresentação de dois Autores da Editora, em Lisboa.
    Para ambos existia um número bem elevado de adesões, muito em particular para o 1º Autor. Nem uma pessoa apareceu.
    A 2ª autora tinha um número mais reduzido de confirmações e, apareceram meia dúzia de pessoas.
    Como amigos que os dois autores são, sem quaisquer rivalidades, surgiu a opção de se fazer a apresentação em conjunto.
    Poucas pessoas é um facto, mas no entanto foi um dia marcante pela positiva, para todos, não interessa o número de pessoas, que lá estiveram presentes. Foi especial pelas pessoas que estavam, pela forma como interagiram.
    Falei acima em "rivalidades". Vou atrever-me a colocar o dedo na ferida. Essas mesmas rivalidades, entre autores e editoras, provoca muitas vezes estas situações sem qualquer razão de existir.
    Sim já fui a Lançamentos de outras Editoras com todo o prazer.
    Verdade, não vou a todas quantas desejaria, por não me ser possível por diferentes motivos: ou por ter na editora em que colaboro algo agendado, ou por não me encontrar em Lisboa, ou ainda... por não ter dinheiro para a compra do livro.
    Caricato esta última razão e, sem razão de ser... mas é infelizmente real.
    Como é óbvio não existe nenhuma editora que não pretenda e, mais não tenha necessidade de vender. Claro que sim. Mas num Lançamento ou Apresentação, para além das vendas... o calor humano, o sentir os amigos, família etc junto a nós é muito importante.
    Somente quando as pessoas e, incluo editoras e autores, estiverem unidos e não com mesquinhices, como sei que existem, se pode fazer melhor e, mais abrangente pela cultura.
    A escrita, uma das vertentes da Arte/Cultura, seja qual a sua forma, é a matriz de um povo. Fica na história e faz a história desse mesmo país.
    Como lamento que estas situações continuem a existir... e como continuam.
    No nosso caso, e sabes a quem me refiro, utiliso a expressão: os cães ladram e caravana passa.
    Falem, critiquem, digam o que disseram.
    Os amigos que editam por outras editoras, nunca ouviram da nossa parte: edita por nós! Continuam e continuarão a ser os nossos amigos, que acolhemos nessa amizade sincera de braços abertos.
    Não somos amigas por interesses.
    E... quantos "interesses", se passeiam nos bastidores.
    Uma palavra ao nosso querido amigo Gilberto: tenho saudades suas! É um amigo, muito muito querido e especial. Tudo tem um tempo é verdade... um tempo certo para acontecer. Assim, a persistência do sonho e o positivismo... o acreditar tem de ser mantido dentro de nós. Beijinhos e Obrigada por tudo Gilberto.
    A Marta é um exemplo de determinação, de empenho e esforço. Tivemos bem recentemente ocasião de falarmos. Beijinhos grandes para si e família.
    Para ti Emanuel, sei que te manterás sempre assim: igual a ti próprio. É um privilégio ter a tua Amizade.
    A todos que lerem: analisem o seu interior e vejam se existe razão para estas selecções que fazem. Não se esqueçam que os chamados e reconhecidos, como Grandes nas diversas áreas... são humildes, simples, sem estas mesquinhices.
    Conheço e convivo com vários, por isso saber do que falo... e, ao observar muito em meu redor, sem eu o desejar, sai um sorriso irónico mas com tristeza, por ver tantos egos inflamados.
    Pronto cá estou eu... a escrever demasiado... com ou sem nexo. Nem sei!
    Beijinhos
    Susana


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    1. Todas as opiniões e partilhas de experiência são sempre bem-vindas aqui. Aliás, é esse o propósito do blogue. Continuemos, pois, a pôr dedos nas feridas.
      Beijo.

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  9. E eu que pensava que a falta de prestígio à boa literatura só ocorria no Brasil. A arte vive tempos infelizes, no entanto, nossa poesia perdura, querido irmão. Um abraço imenso de cá do Atlântico.

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    1. Poeta Wasil! Creio que não existe país do universo lusófono onde esta situação não ocorra. É uma luta que cabe a nós autores travar para que a sociedade, no seu todo, ganhe consciência para a importância de manter viva e saudável, aquilo que nos identifica, a cultura. Sei que não é tarefa fácil mas também não sou de virar a cara e fingir que está tudo bem. Mal ou bem, vou fazendo a minha parte e, batalha a batalha, tenho a noção que, mesmo que eu próprio não beneficie, as gerações futuras podem ganhar com o ruído que faço.
      Um forte abraço luso.

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  10. Conheci hoje o Emanuel. Conheci o blogue. Aprendi muito. Valeu a pena. Voltarei, com toda a certeza.

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