quinta-feira, 21 de março de 2013

DEZ PERGUNTAS A ... GONÇALO MARTINS

Tendo em conta a proximidade do lançamento da maior antologia de poesia que se edita actualmente em Portugal, este vosso amigo achou interessante ouvir Gonçalo Martins, fundador e chefe de administração da Chiado Editora e grande responsável pela antologia Entre o sono e o sonho que este ano teve a sua quarta edição. Desde já o meu agradecimento ao Gonçalo Martins pela enorme disponibilidade demonstrada, apesar da sua agenda preenchidíssima.
 
1 - Enquanto editor, como vê o panorama literário nacional, tendo em consideração o rácio autor / número de leitores?
Apesar do péssimismo vigente em quase todas as àreas da vida económica e cultural portuguesa, é um facto que existem cada vez mais Autores e nunca se leu tanto como agora! Este fenómeno tem de ser visto à luz de uma prespectiva multi-plataforma, isto é: Livros, redes sociais, blogues, e-books, etc...
Enquanto editor, é fundamental perceber que os principais actores deste paradigma são os Autores e os Leitores, independentemente do rácio que cada um representa. No entanto, para vários dos actores secundários, entre os quais os editores, especialmente numa altura de rápidos avanços culturais e tecnológicos, existem enormes riscos mas também enormes oportunidades.

2 - Sabendo de antemão que qualidade é um conceito abstrato e demasiado lato, que características deve ter uma obra para preencher os requisitos exigidos pela vossa linha editorial?
Para ser publicada pela Chiado Editora uma obra tem de ter interesse para os leitores, ainda que seja apenas um nicho, e ser viável financeiramente. Estamos no mercado para fazer a diferença, publicando livros que as pessoas gostem, e tornando a vida dos leitores melhor.

3 – Em percentagem, a Chiado Editora publica mais autores que a procuram ou autores que aborda? Porquê?
95% das publicações da Chiado Editora são de Autores que, em primeira instância, nos apresentam originais. Isto acontecee porque nos são apresentados mensalmente cerca de 600 projectos editoriais, enquanto nós, enquanto editores, convidamos mensalmente uns 3 ou 4 Autores a publicar connosco.

4 - Quais as razões principais para que a generalidade dos autores tenha encargos tão elevados na edição das obras?
Apenas posso falar pela Chiado Editora. No nosso caso, e apesar das largas dezenas de obras que publicamos mensalmente, cada obra é uma obra, e as condições de publicação são discutidas caso a caso. O objectivo é sempre que, no final, Autor, Leitores e editora fiquem satisfeitos.

5 - Entre as editoras que mais publicam autores desconhecidos e primeiras obras, a Chiado Editora é aquela que, à primeira vista, tem uma estrutura maior. De que forma esse aspecto a beneficia em relação às outras?
A Chiado Editora não tem parado de crescer e a estrutura tem acompanhado essa tendência. A nossa estrutura actual, de cerca de 50 pessoas no total, entre editores, marketeers, logística, organizadores de eventos, designers, paginadores, revisores, etc... é aquela que consideramos adequada neste momento para fazermos um excelente trabalho com cada um dos livros que editamos, e mantermos o espírito aberto para a inovação constante.

6 - As editoras mais pequenas, ou dito de outra forma, as editoras que não têm atrás de si os grandes grupos editoriais, não teriam a ganhar se unissem esforços entre si? Essa interacção não as beneficiaria?
Sem dúvida! No início deste trajecto contactei com inúmeras editoras para realizarmos sinergias vantajosas para ambos em áreas como a impressão, distribuição, etc... Obtive poucas respostas e as que obtive foram negativas ou inconclusivas. Existe uma enorme vontade de defender o pouco que se tem, em lugar de pensar a edição de forma empresarial, com riscos e oportunidades.  

7 - Qual o conselho que dá aos seus colegas editores no sentido de um crescimento semelhante ao vosso?
Tenho 33 anos, ainda estou no início, não me vejo no direito de dar conselhos a ninguém.

8 - Nos 4 anos de existência, a Chiado Editora cresceu ao ponto de ter entrado em vários mercados internacionais. Quais as vantagens que daí advêm para os autores portugueses?
As vantagens são imensas. Desde logo, porque todos os livros publicados em Português, sejam de Autores portugueses ou brasileiros, que vendam 3.000 exemplares em Portugal e/ou no Brasil, independentemente do género ou do Autor, recebem um significativo investimento da Chiado Editora que os traduz para Espanhol e Inglês e os publica pelas respectivas chancelas da Chiado nesses países: Chiado Editorial (Espanha) e Chiado Publishing (Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos).

9 – Este ano teremos o volume IV da Antologia ENTRE O SONO E O SONHO. Isso significa que esta obra tem sido mesmo representativa do que melhor se escreve em português ou passou a ser uma imagem de marca da editora?
Ambas as permisas são verdadeiras! A antologia foi um projecto em que me envolvi pessoalmente. A obra é cada vez mais democrática, cada vez mais abrangente, têm sido publicados na mesma poetas fantásticos, alguns pela primeira vez. Por outro lado, é o próprio público e são os Autores que ano após ano soliticam um novo volume da obra.

10 – Quais os vossos objectivos para o futuro próximo e que podem os autores portugueses esperar da Chiado Editora?  
Somos a Editora que mais livros publica em Portugal, queremos crescer até ser a Editora que mais livros vende. Ainda suma, e sem falsa modéstia, queremos, em 5 anos, ser a maior editora em Portugal. Nos mercados internacionais querermos ser uma editora com uma palavra importante, creio que somos já a única editora do mundo a públicar em 15 países e 5 línguas diferentes. Os Autores podem esperar uma editora sólida, arrojada, e, terminando como comecei, que sabe que o Autor e o Leitor são as peças mais importantes do meio literário.

25 comentários:

  1. Olá, Gonçalo e Emanuel!

    Muito interessante. É a pensar e a agir assim que as coisas acontecem. Força Chiado Editora!

    Beijinhos,

    Marta.

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    1. Olá Marta! A Chiado Editora é um exemplo a seguir, sem dúvida!
      Obrigado por mais esta visita.
      Beijo.

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  2. Boa tarde Emanuel.
    Entre o que se diz e o que se faz na prática existe uma enorme diferença.
    É curioso por vezes sabermos que grandes editoras traduzem os textos em várias línguas e nem se dão ao trabalho de antes de editar uma obra fazer-lhe uma simples revisão e o leitor acaba com um livro nas mãos que para além de diversas gralhas contém vários erros ortográficos.
    A união entre as editoras só não existe porque os editores nada fazem, na prática, para que isso aconteça.
    Falar só não chega é preciso agir.
    Parabéns Emanuel pela postura correcta na área dos livros e do ser humano.
    Beijo amigo daqui.
    Maria José Lacerda

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    1. Maria José! É bom poder contar aqui no blogue com as várias vozes da literatura.
      Beijo.

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  3. Parabéns, amigo!
    Uma entrevista muito interessante.
    Abraço
    Vítor Cintra

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    1. Obrigado, poeta!
      Forte abraço.

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    2. Concordo plenamente. ...
      ' 'Entre o que se diz e o que se faz na prática existe uma enorme diferença.
      É curioso por vezes sabermos que grandes editoras traduzem os textos em várias línguas e nem se dão ao trabalho de antes de editar uma obra fazer-lhe uma simples revisão e o leitor acaba com um livro nas mãos que para além de diversas gralhas contém vários erros ortográficos.
      A união entre as editoras só não existe porque os editores nada fazem, na prática, para que isso aconteça.
      Falar só não chega é preciso agir."

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  4. Parabéns Gonçalo pelo trabalho que tem desenvolvido!

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  5. Muito bem! Gostei de ler. Assim se libertem asas para voar :)

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  6. Elegante entrevista, perguntas inteligentes respostas inteligentes

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  7. Pois é; não basta publicar, publicar como se não houvesse amanhã... Os autores precisam de muito mais, face ao investimento que fazem ao escolher a co-edição. É preciso: revisão, aconselhamento, sugestões, melhorias, qualidade e acompanhamento parcial ou total - antes de editar e publicar mais um novo livro - e, atenção que contra mim falo. Só assim se podem cruzar os interesses do autor com os do leitor em simultâneo com os da editora, criando e linha condutora de satisfação para todos.
    E isto porque os novos autores - parece-me a mim - tal como eu com dois livros editados, não passamos de meros leigos no que toca ao mundo editorial.
    Por todas essas falhas inertes à co-edição é que digo que não basta publicar; isso qualquer gráfica o faz!

    Carla Pais

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    1. Carla Pais! Totalmente de acordo. Grato pela visita.

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  8. É sempre um prazer ler bons conteúdos

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  9. Boa tarde!
    Gostei da entrevista. Direi: das perguntas e das respostas.
    O mundo editorial é tudo aquilo de que fala o Gonçalo e muito mais
    .
    E concordo com o Gonçalo quando diz "...é um facto que existem cada vez mais Autores e nunca se leu tanto como agora! Este fenómeno tem de ser visto à luz de uma perspectiva multi-plataforma, isto é: Livros, redes sociais, blogues, e-books, etc...
    ..."
    A blogosfera veio incentivar a escrita e a leitura e mesmo aqueles que jamais pensaram em editar, já o fizeram em virtude daquele incentivo.

    Mas também é um facto que a venda de livros não se situar somente em livrarias ajudou à sua divulgação e aquisição mais fácil.

    Tive o prazer de ver inserido 2 pequenos poemas no 3º. e 4º. volume da Colectânea Entre o Sono e o Sonho e agradeço ao Gonçalo esse privilégio.

    A poesia é o ar que respiro, escrever o oxigénio que me sustenta. Comecei a ler poesia muito cedo, ainda na infância, já que os meus progenitores eram uns devoradores de poesia e literatura em geral. Mas confesso que a "relação" editora e autor é muito mais que a publicação "fria e crua" daquilo que se escreve.

    E muitos são os autores que se lamentam pela falta de ética de muitas editoras por isso ver crescer assim a Chiado Editora e pela mão de alguém somente com 33 anos é verdadeiramente de se dar os parabéns e desejar que continuem com a dinâmica que têm tido até aqui.

    Um abraço e feliz Páscoa

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    1. Obrigado pela visita e pela partilha de opinião. Essa é a razão de ser deste blogue.
      Boa Páscoa.

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    2. Parabéns e muito sucesso à equipe da editora Chiado. Os princípios éticos que regulamentam a editora Chiado, impulsiona a literatura. Eu parabenizo aqueles que foram privilegiados pela edição de seu poema nesta editora e ao mesmo tempo, desejo aqui postar um poema para homenagear todos os escritores idealistas. A ultima temática proposta por esta editora é de muita sensibilidade e faz despertar emoções. Segue o poema para leitura , na certeza de que nossa caminhada é infinita.
      Aos Cuidados de Gonçalo Martins

      Além do arco-íris para amar entre a terra o céu e o mar.

      Além do arco-íris as luzes do sol brilhando, anunciando esta viagem de corações ansiosos e sedentos, desde a infância à eterna juventude com desejos de amar, como se estivéssemos perdidos, soltos no vai e vem das ondas do mar.

      Além do arco-íris, a energia da luz e do calor que aquece os sonhos da alma e impulsiona o corpo para caminhar.

      Além do arco-íris, nasce a esperança que encanta e exala um perfume como se fossem as rosas, fazendo florescer lindos sonhos de amar.

      Além do arco-íris, os pássaros coloridos voando, como se volitando e levando em suas asas a dor de quem muito sofreu por amor.

      Lá no horizonte as brumas leves de paixões quentes, chegam e se vão como a aurora nascente em sua rosada coloração e na alvorada brilhante, o novo amanhecer vai se abrindo cheio de amor e paixão.

      E lá no horizonte, estão os mistérios dos ventos que em tempestades avassalam como um furacão e fazem tremer o corpo de amor e emoção e depois se acalmam, acalentando sonhos e desejos de rolar entre as flores pelo chão.

      Lá no firmamento, estrelas e promessas de beijos eternos, sob a luz do luar a nos guiar.

      Além do infinito a alma repleta de felicidade, solta e liberta no abraço mais sincero, se perdendo e se encontrando na doce melodia do ritmo de corações unidos, num só corpo, numa só alma para na eternidade da vida pulsar.

      Além das estrelas, as alegrias, esperanças e fantasias como se estivéssemos em cada dia a flutuar, entre passado, presente e futuro nas lembranças e sonhos da alma de quem nasce para viver e amar, entre a terra , o céu e o mar.

      Angela Maria Tavares
      Americana - SP - Brasil

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  10. Parabéns, gostei do que disse pareceu-me bastante sincero no entanto tenho uma pergunta que custos teria um autor para publicar a sua obra no caso de ser aprovada pela editora?

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    1. Regina!
      Não sendo editor mas dando uso à minha experiência como autor editado, posso dizer-lhe que os custos variam muito de editora para editora. Existem vários factores sobre os quais as editoras se baseiam na hora de cobrar um valor, tendo como base os valores praticados pela gráfica que utilizam. Dois desses factores são: o volume da obra e tipo de papel usado, tanto no miolo como na capa e contracapa.
      Obrigado pela visita.

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  11. Nao me parece que a Chiado Editora seja um exemplo a seguir pelo menos no meu caso tive uma ma experiencia, adquiri um livro na Chiado Editora atraves da internet segui todos os passos necessarios para o pagamento e enviei email com o comprovativo de pagamento , ate agora nem acusaram a recepcao dos mails nem livro nem dinheiro Nada o que e certo e que sem o dinheiro eu ja fiquei

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Toca a falar disso