quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

EU FALO DE.... SOLIDARIEDADE AUTORAL


SOLIDARIEDADE AUTORAL

Todos sabemos e sentimos na pele que esta época em que vivemos fica marcada pela feroz concorrência que a sociedade no geral nos obriga a enfrentar em todos os aspectos da vida. Enquanto autor sei e compreendo que aqueles que escrevem querem ganhar o seu espaço mas também tenho consciência que nem todos jogam com as mesmas regras e valores.

Serve o parágrafo anterior de introdução a um tema que já abordei neste blogue, embora numa perspectiva diferente. Nesse artigo falei de autores que nunca são vistos em outros eventos que não sejam os seus ou efemérides das editoras pelas quais editam, neste falarei da falta de solidariedade entre autores e as razões que levam a que dentro do universo de escritores existam filhos e enteados.

A generalidade das pessoas sabe que à partida tem de “contribuir” com um determinado valor para poder editar. Quer se queira, quer não, a escrita é um negócio e é perante este cenário que temos de analisar as dinamicas de alguns autores. Existem aqueles que se sujeitam e investem nestas circunstâncias e outros que se recusam a fazê-lo. Entre aqueles que arriscam, alguns não ficam satisfeitos, para não dizer desagradados, e não voltam a editar enquanto outros, apesar de tudo, persistem. Até aqui nada contra.

No entanto, e falando em termos gerais porque conheço alguns autores que se recusam a editar nestas condições mas mantêm o espírito aberto e apoiam os restantes, este cenário inicial provoca em alguns “amargurados” um sentimento de rancor por aqueles que continuam em busca do sonho, em especial os que, aos seus olhos, são escritores “inferiores” a si. Não interessa se escrevem bem ou mal, conseguem editar e isso é suficiente para serem apelidados de “vendidos” ou “comerciais” e acusados de só editarem porque têm dinheiro para o fazer (pasme-se a descoberta), e por isso não lhes merecem qualquer incentivo ou apoio.

Apesar de não concordar com esta postura, consigo entendê-la melhor do que aquela que adiante mencionarei.

Deixemos de lado os autores que não editam ou que após a edição do primeiro livro deixam de editar e concentremo-nos naqueles que o fazem com alguma frequência.

Faz parte da natureza humana criar laços, sejam familiares, profissionais, sociais ou culturais. Nesta lógica é perfeitamente legítimo que entre autores também haja empatias e amizades muito fortes. Da mesma forma, também é natural ver autores que editam numa determinada editora terem contactos mais estreitos entre si do que com autores de diferentes chancelas. No entanto é neste ponto que a porca torce o rabo e muitos autores misturam alhos com bugalhos transformando laços de amizade em grupos quase hermeticamente fechados, sendo que, quem não joga com as suas cores deixa de ser bom escritor e por consequência deixa de contar com o apoio desse grupo. Eu digo “desse” mas existem inúmeros.  

Para ilustrar o que acabei de referir, darei como exemplo uma situação que ocorreu comigo e que sempre desvalorizei, embora o mesmo não possa dizer de algumas pessoas que se aperceberam do que se estava a passar e que tomaram como suas as dores que deveriam ter sido minhas mas que, repito, nunca cheguei a sentir.

O episódio ocorreu no Verão de 2011 após a minha primeira presença na POPULAR FM, onde anunciei em primeira mão que o meu terceiro livro, LICENÇA POÉTICA – duetos lomelinos, seria editado pela Lua de Marfim.

Logo nessa noite foram publicados alguns textos na internet que, apesar de não dizerem expressamente a quem se dirigiam, eram endereçados a mim. No dia seguinte a essa entrevista na rádio, fiz questão de marcar presença num evento e pasmem-se (eu não) algumas pessoas com quem tinha um relacionamento saudável, pura e simplesmente não me falaram, havendo inclusive quem me tenha virado a cara. Há testemunhas disso e durante toda a semana que se seguiu recebi chamadas de pessoas que se aperceberam do ocorrido, tanto na net como no evento e que se sentiam mal perante tudo aquilo. Mas tal como referi anteriormente, toda esta situação mereceu da minha parte uma completa desvalorização.

O mesmo nível de desvalorização que dei em Abril de 2012 a todas as mensagens, chamadas e comentários que recebi quando anunciei que iria apresentar o mesmo livro no Porto a convite da editora Universus.

Para mim sempre foi muito claro que existe uma diferença substancial entre o Emanuel Lomelino – pessoa – e o Emanuel Lomelino – autor. Enquanto o primeiro tem uma postura social uniforme e sem distinções, o segundo encara com realismo todas as situações que o podem beneficiar, a si e à obra.

Sem querer dar importância a algo que não a merece, usei este exemplo para dizer que a generalidade dos autores não consegue ver para além do seu próprio umbigo nem assimilar que existem outros que procuram diferentes saídas, soluções e caminhos quando confrontados com oportunidades de dar outro rumo à sua obra. Infelizmente, para muitos ainda é difícil aceitar que alguém do mesmo meio tenha mais sucesso ou maior visibilidade.

Enquanto autor, sei quais as dificuldades que outros têm para verem os seus sonhos transformados em livro e por isso não me custa absolutamente nada dar uma mão e ajudar através das ferramentas que tenho ao meu dispor e em algumas circunstâncias comparecer nos eventos para dar uma força extra e incentivar.

Também tenho consciência que o facto de neste momento ter um contrato de edição não quer dizer que sou melhor do que outros nem que continuarei a receber propostas de edição nos mesmos termos ou semelhantes. Pura e simplesmente aproveitei, enquanto autor, uma oportunidade sem que o homem deixasse de tratar todos os outros da mesma forma que até aí.

O mesmo não poderei dizer de alguns individuos que mudam completamente a sua forma de estar quando conseguem entrar em alguns núcleos mais elitistas (os que publicam em editoras maiores e/ou em órgãos ligados às artes) muitas vezes evitando misturar-se com os demais em público. Por acaso conheço um que fica embaraçadissimo quando me encontra em eventos de “amigos” seus.

Aqueles que me conhecem e convivem mais de perto comigo sabem o quanto fico satisfeito quando outro autor consegue alcançar voos mais altos, mesmo mais altos que os meus.

Mas, como referi no início deste artigo, vivemos numa sociedade em que quase é exigida competição e a maioria das pessoas actua em conformidade esquecendo que estamos todos no mesmo barco, independente da chancela pela qual editamos e das condições em que o fazemos.

Por minha parte, podem ter a certeza que continuarei, dentro das minhas possibilidades, a dar destaque a todos os autores lusófonos, seja na divulgação de eventos, com presenças nas sessões de lançamento e apresentações, ou utilizando os meus espaços da internet para lhes dar maior visibilidade. Tenho a certeza que ajudando outros a crescer também o Emanuel Lomelino autor cresce.


MANU DIXIT

 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FALA AÍ BRASIL... FLÁVIO MORGADO


 
 
Inicia-se hoje mais uma rúbrica que pretende dar-nos a conhecer um pouco daquilo que se faz no Brasil a nível literário.
O meu agradecimento ao poeta FLÁVIO MORGADO pelo seu contributo no enriquecimento deste blogue
 
 
Diria o poeta Mário Quintana, que “quem faz um poema abre uma janela”. Pois sim, Bruno Cattoni, um dos grandes poetas destes tempos, não só pertence a essa linhagem, como sabe a poesia como uma das mais potentes formas de se chegar ao outro. Talvez a única justa: a única que dizendo o poeta, também deixa emergir a alteridade do leitor. Cattoni sabe salvar afogados.

Poeta, ativista e jornalista, Cattoni nasceu no Rio de Janeiro, e é autor de mais de seis livros de poesia. Dono de “um verso largo, de ritmo quase bíblico, de alta densidade emotiva e inquietação social”, como diria seu contemporâneo, o poeta Salgado Maranhão, Cattoni nos dá a oportunidade de conhecer aqui um pouco de sua poética.

Com muito prazer, eu vos apresento, Bruno Cattoni.

 

1 - Cattoni, por quê a poesia como forma de expressão?


A poesia me alcançou antes que eu pudesse expressar, em outro gênero, a linguagem transcendente. É o veículo que chegou onde eu estava esperando condução. Veio da sensibilidade da meninice, da relação subjetiva com os animais, as plantas, as pedras e as paisagens. Passageiro das noções sem palavras, quando desembarquei no mundo do estudo e do trabalho, adquiri vocábulos e imagens para contar a aventura da minha percepção dramática de um planeta belo, onde moram as famílias, regaço do amor humano; e os cachorros, gatos, cavalos, vacas, coelhos, pássaros, peixes e répteis, fiéis depositários do meu amor à vida. Mas não sou um poeta rural ou telúrico. Foi no ambiente urbano que senti a necessidade destas lembranças, enquanto levava a minha poesia para formatar-se na festa das ruas, nos encontros numerosos e na socialidade exaltada. Descobri, assim, que a poesia é o meu veículo e que conduz ao sublime, movido à energia vivencial, contida em qualquer tempo e em qualquer espaço.


2 – Sua poesia é muito marcada pelo ativismo político. Num primeiro momento você foi militante do Partido Comunista, e hoje tem um importante trabalho poético em relação à defesa dos Direitos Humanos. Como é a relação, nesse caso, entre poesia e alteridade? É possível alcançar o outro?


Minha consciência não é passiva. Não me encerrei, solitário, no labirinto das contradições instaladas pela antropofagia capitalista, e quis libertar-me da impotência diante de relações absurdas de dominação e sujeição do homem no âmbito de um sistema político-filosófico fratricida.

A manutenção do lucro privado como motor da economia acarreta rivalidades entre as pessoas e entre os países. Rivalidades que conduzem ao desperdício e à competição estéril. As tensões entre as nações mais desenvolvidas e as que estão em desenvolvimento geram conflitos que não amenizaram, décadas depois do colonialismo. E esta cartilha macroeconômica é ensinada, sub-repticiamente, na publicidade, nas escolas e nos ambientes de trabalho todos os dias, o que fomenta, no tecido social, a disputa e o ódio entre os cidadãos.

No contexto de emancipação do homem, reside em cada um a mudança da sociedade capitalista. Mora em nós o gesto primordial de transformação da realidade exclusivista e competitiva, a partir da solidariedade humana. Por isso não entreguei minha ação a uma organização acima de meu livre-arbítrio, mas juntei minhas forças com as de irmãos em pensamento. Não faço poesia, nem trabalho em jornalismo ou no ativismo de direitos humanos, para derrubar o capitalismo, nem para implementar o que considero desejável, o socialismo - um ideário que também sofreu distorções mas que prega a distribuição da riqueza, não a sua concentração.

Escrevo atuando e atuo escrevendo para conscientizar sobre a utopia de um outro mundo possível, quem sabe melhor para todas as correntes de pensamento, que um dia se complementarão para preservar o ser humano e seus valores espirituais. A história da luta dos indivíduos é sangrenta, sim, em muitos momentos, mas é também reparadora e redentora no caminho do respeito e do amor ao próximo. Não há um roteiro que se deva transmitir para a realização deste destino comum a todos. Neste caso, não movo meus anseios a bordo da poesia, mas tomo outro bom transporte - a dor - que está circulando por todos os cantos onde estamos momentaneamente esquecidos por obra e desgraça do egoísmo e da vaidade, dois flagelos da natureza humana muito bem instrumentalizados pelos capitalistas.

Tenho muito a dizer, poeticamente, para me colocar ao alcance e no alcance do outro. Agora, recorro a Emmanuel Lévinas, o filósofo da alteridade. Vale a pena prestarmos mais atenção nas mulheres para entrever nelas o feminino, enquanto a alteridade é a sua natureza. E talvez a crise ontológica do ser, que provoca a celebração do idêntico e o desprezo pela diferença, chegue ao fim quando se optar por ser femininamente, "outramente", para além da essência e de todo conhecimento totalizante e totalitário.


3 – Até onde a poesia dá conta? Uma outra atividade que exerce é a de fundador de uma importante Organização Não Governamental, o Grupo Pela Vidda. Como age essa organização? Entende a poesia como um complemento a esse ativismo?

A poesia não dá conta de muita coisa, no sentido de ser insuficiente para todas, ou mesmo para algumas das lutas que devemos enfrentar. Houve gloriosas exceções. “España en el corazón", de Neruda, fez uma revolução nas trincheiras de combate ao franquismo. Exemplares do livro eram jogados dos aviões para levantar o moral dos combatentes da liberdade. E surtiu efeito. Também fizeram bom serviço os poemas de Maiakovski, Brecht, Lorca. Dos brasileiros Castro Alves, Thiago de Mello e Moacyr Félix. Dos cubanos Nicolás Guillén e José Martí. Do poeta palestino Mahmoud Darwish. Tantos outros, em várias épocas e pátrias. 

A poesia dá conta, certamente, no sentido de noticiar os suplícios dos heróis, a resistência de um povo, a impostura e a ignomínia dos obscurantistas. Sim, isto ela faz. Por isso, para mim, foi e é mais importante ser poeta do que escrever poemas. Para ajudar na integração, na dignidade e na valorização dos doentes de aids. Para denunciar o trabalho escravo com meus companheiros do Movimento Humanos Direitos. Para compor as ações de mobilização do Fórum Social Mundial, que reúne ativistas que trabalham pela paz e pela liberdade. Também o jornalismo considero um ativismo, para apontar os abusos de todos os tipos e manter vigilância pela democracia e pela liberdade de expressão. Sempre há um poeta onde é preciso. Sempre versos serão lembrados quando a luta recrudesce e a vida corre perigo. Enxergar além de seu tempo e além das aparências faz do poeta um bom auxiliar, aqui na Terra, do trabalho incansável dos anjos.


4 – Você é um poeta que passou pelo comunismo em um período ditatorial (1964 – 1985), passou pela poesia performática (valorizando a oralidade), chegou a uma poesia que busca dar voz aos que não a tem, e ao mesmo tempo, é elogiado por poetas renomados como Thiago de Mello e Ferreira Gullar por seu rigor no trabalho com a palavra. A palavra se transformou na sua poesia ao longo dessa trajetória? Qual a importância da palavra na sua poesia hoje?


De início quero dizer que meus poemas todos tiveram uma motivação política, mesmo quando falavam do amor por uma mulher. Isto porque considero o amor um ato político de transformação da realidade. Um poema de amor atinge em cheio um coração que precisa ser salvo do esquecimento e do desencanto. Salvar um coração é salvar uma vida, e salvar uma vida é um ato político enquanto alistamento, convocação, chamado. Também proclamo que o amor é um ato ético que disciplina e organiza não só a realidade, mas também a fantasia, para que se possa desejar com mais responsabilidade. O desejo, o delírio, o sonho, contidos no poema, eram impactantes nos versos da juventude, porém longínquos e inofensivos. Hoje eu vejo no meu verso todos os sonhos encarnados, mesmo os impossíveis. O rigor com a palavra é causa e efeito desta incorporação. O poeta aperfeiçoou a mágica do seu ofício e instila o desejo com mais virulência e verossimilhança.

Aqui, para explicar melhor, recorro a Octávio Paz, o poeta mexicano. O homem transforma a matéria, qualquer que seja sua atividade. A transmutação consiste em fazer os materiais abandonarem o mundo cego da natureza para ingressar no das obras, no mundo das significações. É desta ordem o destino da palavra na mão dos poetas. Mas para ter capacidade de transmutar as palavras é preciso medir a quantidade de desejo que há no bruxo, não só o talento para a mágica.

Por intermédio do poema, caldeirão e cadinho de toda esta alquimia política, ética e estética, o contato da realidade com a fantasia produziu uma reação química em que, no final, realidade e fantasia deixam de existir, para o surgimento de uma nova dimensão dialética da palavra.

Quanto à poesia falada, sendo mais presencial, menos trabalhada, guarda o frescor da verdade, a pureza do inconsciente. Não pode ser falseada. Esta é a vantagem e eu parei de publicar livros, em certa época da minha vida, só para não conspurcar este frescor e essa pureza. Mas com a maturidade, tive necessidade de deixar gravações na pedra e filhos no ventre, e não só mensagens soltas no vento ou bandeiras de seda desfraldadas. Interessante que, aos 55 , vejo meus poemas de juventude como os meus melhores em termos de resolução conceitual. Hoje resolvo formalmente com mais acerto e o acerto tornou-se até mais espontâneo. Antes não tinha tanta comunicação com os deuses. Hoje converso com os espíritos com mais naturalidade.


5 – Passando por essa gama de experiências, deve restar ao poeta um acúmulo de possibilidades e entendimentos perante algumas circunstâncias. E de alguma forma, hoje aos 55 anos, sua poesia já começa a deixar um legado, passa a ser uma referência. Como analisa o panorama atual da poesia feita no Brasil? O que diria a um poeta que inicia carreira?


A referência é o apelo social. Mesmo quando estou falando da angústia da existência ou da conquista amorosa, eu deixo traços de um projeto de sociedade humana solidária. Este é o legado possível. Sensibilizar as novas gerações para que utilizem a poesia para o bem do próximo, e não para chamar a atenção para si. A poesia refloresta o idioma e contribui para elevar a autoestima de uma nação, fortalecendo uma cultura. Lavrar versos só para refletir no vazio, exaltar o ego e desabafar as contrariedades resulta num gesto monástico ultrapassado e em desacordo com as demandas da luta pela construção de uma humanidade livre e desejante.  Como disse o poeta Mário Faustino, se a poesia for olhada como uma coisa de maus palhaços ou ruins carpideiras, a sociedade estará em perigo. A sociedade em que poetas não cumprem o seu dever. A poesia não é um passatempo, mas se tiver de ser, é bem mais útil e construtiva, como brinquedo mesmo, do que os videogames da modernidade digital.

 

Uma mostra de dois poemas do autor:

 

Unhas sujas

Tempo esgarça, tempo não passou
Que ele é farsa, transposta a massa
E o peso dos anos, depois da evolução.
O vento da praça tem poeira
Já não encontro palavra na nevasca
Vislumbro um deus que dança sem tempo
Nenhuma mudança me basta.
Não há o que mudar, para onde
Quando o tempo é novo e a ré me embaça
Pratos cravados na areia
Comeremos o esquecimento.
Ventre digere o que caçávamos
Que vivente abatemos?
Como posso lembrar de mim com fome
Se tempo algum se insere no que fui
Nuvem, bruma, uma espuma na fumaça
Mãos levitam numa procura escassa
Têm as unhas sujas de cavar o tempo
O que ficou foi como jaça
Rachaduras na memória que se espaça
Tempo esvanece, inda que tempo nasça.
 
[“Osso (na cabeceira da avalanche)”, 7Letras, 2005]

 

Quinta Parte

O amor não é se ver livre de todos os laços!
Quero usar a parábola de Edith para mostrar
Que amor não é se livrar do que está ao lado.
É compartilhar a combustão das lidas em nós,
Não sou eu que faço, o fazer me faz e refaz.
 
Se eu estou doente, a Humanidade adoece.
Ao me curar, salvo um órgão do corpo geral.
O lúcido lírio não quer um prêmio de honra,
Sua honra é violar o lixo, e de lá demonstrar:
 
Ninguém tem de sofrer mais do que sofre.
 
Então, meu sonho perto está de todo sonho
Menos pelo conteúdo que pela força do ato.
Sonho com meus desejos, outro com os dele,
Mas sonhar é uma coragem, tal como amar.
Não sonhar, covardia inconcebível, a saber.
 
Se uns não sonharem, outros vão sofrer,
Se uns sofrerem, só alguns vão sonhar.
Sofrer pelos nossos sonhos é dividi-los,
Logo não sofreremos, por desnecessário
E sonharemos sempre, por imperativo.
 
Sonhar não é bom nem ruim, é o mais real
Amar não é tão bom nem ruim, é ser livre
E ao sermos livres, soltamos as jornadas
Para a qual já partimos — tentar o sonho
É como entrar no lixo, livres para amar.
 
Amor funda a origem, e dela redunda
Ser mais, quando nada esperamos ser,
Falar quando mais nada temos a falar,
Abrindo-se à inutilidade consequente,
Efetuando o ato gratuito, e de repente.
 
Relativo, dúbio, volátil, incompleto,
Invicto, justo, perfeito e duradouro,
Ele serve ao seu jogo mais secreto,
A trama da possibilidade que sana
Quando o amor se perde. Ou não se ganha.
 
[“Silêncio de girassóis”, 7Letras, 2007]

 

*Flávio Morgado é poeta e autor do livro “Um caderno de capa verde” - 7Letras, 2012

 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

AGENDA DA SEMANA

DIA 26

22.30H - Um cheirinho de poesia
               Olimpo (bar café) - Porto

DIA 27

22.30H - Poesia no Olimpo
               Olimpo (bar café) - Porto

DIA 28

18.30H - Lançamento do livro SEMINAL de Gonçalo Salvado
               Galeria António Prates - Lisboa

18.30H - Lançamento do livro O ANO SABÁTICO de João Tordo
               Livraria Barata - Lisboa

DIA 1

11H - Apresentação do livro infantil A MENINA PEQUENA E A SENHORA GRANDE de Ana Vítor
          Escola secundária Padre António Macedo - Vila Nova de Santo André

21H - Apresentação do livro A VIDA DE PERNAS PARA O AR de Carla Oliveira
          Biblioteca pública da Horta - Açores

DIA 2

15H - Apresentação do livro O SENTIDO DA VIDA de Madalena Matias
          Salão paroquial de Olhão - junto à Igreja Matriz - Olhão

18.30H - Apresentação do livro CLARIDADE de A.M.Catarino
            Livraria Arquivo - Leiria

18.30H - Lançamento do livro PATRIMÓNIO BUKOWSKI de Fernando Esteves Pinto
               Guilherme Cossoul de Campolide - Lisboa

DIA 3

16H - Apresentação do livro infantil O FATO E A GRAVATA de Carlos Nuno Granja, ilustrado por LUISA DAVET
          Casa da Contacto - Ovar

sábado, 23 de fevereiro de 2013

EU FALO DE... ESCRITA DE QUALIDADE


ESCRITA DE QUALIDADE

O que define a qualidade da escrita? O estilo? A técnica? A mensagem? Independente do género literário, quais os predicados necessários para se ser um bom escritor? 

Por vezes dou por mim a reflectir neste tema muito por culpa da minha condição de autor que me "obriga" a fazer sempre melhor do que já fiz. É precisamente nessa busca de aperfeiçoamento que me surgem estas dúvidas e creio que todos aqueles que escrevem também sentem, amiúde, essa necessidade e fazem a mesma reflexão.

É evidente que cada um de nós tem o seu próprio conceito de qualidade e o utilizamos para separar o trigo do joio, o mesmo é dizer, o que gostamos daquilo que achamos menor. Mas quererá isso dizer que não existe qualidade no que rejeitamos? Creio que não e para justificar esta minha posição uso como exemplo o único livro que até hoje não consegui ler na totalidade (Versículos Satânicos de Salman Rushdie). Não o fiz porque não gostei da forma como a história se desenrolava e o estilo do autor não me conseguiu cativar. Ora, tendo em conta que estou a falar de um dos livros mais polémicos e conhecidos da história da literatura, não creio que o facto de eu não ter gostado seja sinónimo de falta de qualidade do autor, um best-seller por excelência.  

Aqui chegados, tenho de dizer que, a simples condição de best-seller, também não me garante a qualidade de um livro. Quem não leu já um grande livro de um autor praticamente desconhecido? Tenho a certeza que quase toda a gente tem em casa pelo menos um livro que considera fantástico e que muitos desconhecem a existência! Dou-vos como exemplo (tenho tantos) O LIVRO QUE DESCEU DO CÉU de AHMAD ‘ABD al-WALIYY VICENZO. Alguém conhece?

Por outro lado, muitas vezes alguém nos sugere um livro dizendo mil maravilhas do autor ou da obra e depois de lermos ficamos com a sensação de termos sido enganados (normalmente acontece quando damos ouvidos aos críticos literários).  

Aproveito para fazer um curto parentesis e falar um pouco da forma como muitos críticos justificam a qualidade de um livro. Dando como exemplo a poesia (vai-se lá saber porquê) não concordo com critérios de avaliação apenas técnicos tanto mais que quando estou a ler um livro de poesia não estou propriamente preocupado com a métrica ou com o estilo. A mim dá-me muito mais gozo ler o livro pela mensagem e pelo ritmo. Não andarei muito longe da verdade se disser que quem já leu a poesia da Florbela Espanca adorou os poemas apesar de desconhecer se os sonetos são decassilábicos, alexandrinos ou clássicos. Esses pormenores da escrita devem ficar para análises mais académicas e laboratoriais. Não estou a dizer que estas características sejam futéis para o leitor, apenas quero dizer que a qualidade deve ser vista num todo e não somente por aspectos técnicos pontuais. 

Para terminar e retomando o fio à meada, chego à conclusão que a definição de qualidade, no que à escrita diz respeito, é demasiado lato e inconclusivo uma vez que os padrões diferem de pessoa para pessoa. Contudo, não deixa de ser verdade que existe muito livro mau e isso, quanto a mim, deve-se mais a falta de qualidade criativa.

 

MANU DIXIT

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

VAMOS FALAR DISSO... MARIA EUGÉNIA PONTE


BookCrossing

Para quem não sabe é uma espécie de clube de livros global, que atravessa o tempo e o espaço.

É um grupo de leitura que não conhece limites geográficos, como se fosse uma Biblioteca Mundial ou uma rede social que pretende conectar pessoas através de livros.

Os seus membros gostam tanto de livros que não se importam de se separar deles, libertando-os, para que possam ser encontrados por outros.

Muitos amantes da leitura pensam que gostar de ler significa amontoar livros já lidos, alguns  não vão ser lidos de novo mas ficam nas prateleiras da estante a acumular poeira.  Os Bookcrosser’s  aprendem a partilhar esses livros e a dar a outros oportunidade de usufruir do prazer de os ler.

Há várias maneiras de o fazer e isso podem descobrir acedendo ao site que, felizmente, já possui plataforma em português.

O endereço do site é: http://www.bookcrossing.com/

Foi lançado em 21 de Abril de 2001, nos Estados Unidos e, a partir daí, espalhou-se por todo o mundo muito rapidamente. O primeiro Bookcrosser português registou-se em 2002. Desde então o número de portugueses tem vindo a aumentar, havendo neste momento mais de 10 000 Bookcrossers portugueses registados. A nível mundial, Portugal é neste momento o décimo país com mais membros.

Eu inscrevi-me no site em 30 Novembro de 2007 e comecei por registar 1 exemplar do meu primeiro livro, Desencontros Virtuais.

O fórum português  (http://www.bookcrossing.com/forum/19 ) é geralmente o primeiro local onde se tem contato com os restantes membros. Aqui os bookcrossers portugueses podem trocar impressões sobre os livros que lêem, recomendar autores e descobrir novas leituras. Mas, mais do que isso é também um ponto de encontro de uma comunidade centrada à volta da leitura. Aqui criam-se amizades que duram para uma vida. Mais ativos nos bookrings e nas trocas do que propriamente na libertação de livros (podem pesquisar no site o que são os bookrings e as trocas de livros), os Bookcrossers portugueses nunca deixam de promover ações a nível nacional como a convenção anual, encontros, piqueniques, passeios e libertações em massa, onde não só se tenta espalhar a missão do Bookcrossing (transformar o mundo numa biblioteca), mas também se reencontram velhos amigos.

Foi no fórum que, pouco a pouco, fui entendendo o espirito do BookCrossing.  Um dos membros aconselhou-me a colocar o meu  livro em BookRay ou BookRing, explicando que a diferença era que no 1º caso o livro era lido pelas pessoas que se inscreviam para tal e, no fim, seria libertado num lugar qualquer para que alguém o encontrasse e no 2º caso, o livro voltaria para o seu dono.

Resolvi colocá-lo na 1ª.opção e lá seguiu ele para a 1ª.pessoa que se inscreveu (de um total de 29).

Entretanto, registei outro exemplar mas para esse experimentei a verdadeira essência do BookCrossing que consiste em permitir aos livros encontrar novos leitores.

A libertação do livro é o passo principal, consiste em deixá-lo num local onde possa ser encontrado para que possa ser lido e podemos seguir o seu percurso se a pessoa que o encontrar entrar no site e registar que está em seu poder e deverá voltar a "abandoná-lo" quando terminar de o ler, deixando a sua opinião sobre o livro.

Por isso, antes de libertar um livro, convém identificá-lo correctamente, para que o próximo leitor saiba que se trata de um livro do BookCrossing, e que deve vir ao site dar notícias dele.

Depois da minha primeira experiência, com  livros da minha autoria que, curiosamente, acabaram por ir parar ao Brasil, registei no site os livros da minha estante e, a partir daí, tenho lido, emprestado, libertado… enfim, a minha relação com os livros nunca mais foi a mesma. Neste 5 anos de BookCrossing  muitas histórias curiosas poderia contar-vos mas iria alongar-me demasiado.

Neste momento, já não sou tão presente no movimento  mas, sempre que posso, aconselho-o pois foi graças ao BookCrossing que descobri novos autores e novos géneros literários que nunca tinha experimentado, recomendados por quem realmente gosta de ler e que não tem intenções comerciais. Por outro lado, posso partilhar com outras pessoas as minhas leituras, negando a tradicional ideia de que a leitura é um ato isolado. E claro, não posso esquecer a grande emoção que é receber um email com notícias de um livro libertado na rua, saber que encontrou novos leitores e que fez alguém feliz.

Claro que devemos ter sempre em conta o facto de que ninguém é obrigado a emprestar livros da sua biblioteca pessoal, e muito menos somos obrigados a enviar os nossos livros a alguém que facilmente os encontra numa biblioteca municipal.

O que o BookCrossing permite é a criação de um sentimento de partilha e isso é muito gratificante.

A descoberta deste verdadeiro mundo é uma experiência única para quem gosta de ler e de partilhar esse gosto.

MARIA EUGÉNIA PONTE

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

1ª BIENAL DO MEDITERRÂNEO

 

I BIENAL DO MEDITERRÂNEO

No âmbito da celebração do ano do Brasil em Portugal, que se comemora durante 2013, o Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais de Minas Gerais (InBrasCI - MG), através da sua Directora Cultural, NILZE MONTEIRO, idealizou um projecto itenerante chamado 1ª BIENAL DO MEDITERRÂNEO que, em parceria com várias entidades governativas nacionais, regionais e associações privadas sem fins lucrativos, junta diversas expressões artísticas, como pintura, desenho, colagem, gravura, fotografia, escultura e literatura, e tem como objectivo principal promover e valorizar o património artístico de cada região envolvida, colocando-as num panorama mais universal e permitindo o intercâmbio de ideias e conceitos em cada uma das artes.

Esta iniciativa estará sediada no Convento Dos Cardeais em Lisboa, entre 9 e 20 de Abril 2013.

Seguidamente, a Bienal irá para a Galeria Municipal de Mourão - Évora, onde estará entre 27 de Abril e 27 de Maio 2013.

A terceira e última fase da Bienal será no Espaço Cultural em Campinho - Reguengos de Monsaraz de 1 a 30 de Junho 2013.

Todos os artistas e escritores interessados em participar, com as suas obras, nesta Bienal, devem inscrever-se até dia 28 de Fevereiro 2013.

 

Quem quiser o regulamento de participação da Bienal e os contactos disponibilizados pelo inBrasCI - MG, formato pdf, pode enviar-me o pedido para amadordoverso@gmail.com

 
 POESIA ALDRAVISTA

Em paralelo com esta Bienal, decorrerão entre 6 e 13 de Abril 2013 diversas acções de divulgação, promoção e debate, em redor da antologia O LIVRO DAS ALDRAVIAS - nova forma - nova poesia, livro que será oficialmente apresentado em Lisboa, no Salão Nobre da sede da Academia Portuguesa de Ex-Libris, numa parceria entre esta instituição, a Academia Internacional de Heráldica e a Academia de Letras e Artes, com o intuito pedagógico de difusão da nova forma de poesia criada por poetas brasileiros do Movimento Aldravista, em Portugal.

Para saberem mais detalhes sobre estas duas iniciativas culturais, podem aceder a www.jornalaldrava.com.br/pag_inbrasci_2012.htm

 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

AGENDA DA SEMANA


DIA 19

22.30h - Um cheirinho de poesia
                Olimpo (bar - café) - Porto

 

DIA 20

22.30h - Poesia no Olimpo
                Olimpo (bar - café) - Porto

 

DIA 21

17h - Apresentação do livro SETE FACADAS E CARAPAUS DE ESCABECHE de Vitor Fernandes
          Residência da Nossa Senhora da Esperança - Centro social e paroquial Padre Ricardo Gameiro - Cova da Piedade - Setubal

22.30h - Poesia de choque
              Olimpo (bar - café) - Porto

 

DIA 22

18h - Sessão de poesia e teatro
          Auditório Maestro Cesar Batalha - Galeria Alto da Barra - Oeiras

21h - Apresentação do livro COLHEITA DE INCERTEZAS de Armando Sena
         Auditório da junta de freguesia de Vila Nova da Telha - Maia

 

DIA 23

16h - Lançamento do livro POETAS QUE SOU de Emanuel Lomelino
         Hotel Real Palácio - Lisboa

18h - Lançamento do livro FUTURO RISONHO de Mário Nóbrega
          Hotel real Palácio - Lisboa

21h - Apresentação da colectânea BEIJOS DE BICOS E HISTÓRIAS DE AMOR
          Fábrica Braço de Prata - Lisboa

 

DIA 24

15.30h - Apresentação de colectânea e livro de Eduardo Roseira
                Casa da cultura de Paranhos - Porto 

Quem tiver informações de eventos para a próxima semana e quiser que sejam divulgados aqui mande-me um mail para amadordoverso@gmail.com com os dados do evento até 6ª feira.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

DEZ PERGUNTAS A... MARTA TEIXEIRA PINTO

 
Toda a gente já me ouviu dizer que a minha praia é a poesia. No entanto, isso não invalida que eu absorva e me estimule com outras leituras. E uma das últimas que fiz fora da poesia foi o livro PORTAS MÁGICAS (Romance Fantástico) da autora MARTA TEIXEIRA PINTO. Sem me alongar muito em considerações sobre a obra, não quero deixar passar a oportunidade de dizer publicamente que este livro não fica a dever absolutamente nada aos grandes nomes do género que por norma são best-sellers no nosso mercado. Se mais razões não houvesse, esta seria suficiente para justificar a entrevista que se segue. Quero também deixar expresso o meu agradecimento à autora pela disponibilidade em responder às minhas perguntas.
 
SOBRE A AUTORA E A OBRA
MARTA TEIXEIRA PINTO, nascida em Lisboa e a residir na margem sul, sempre adorou livros com especial preferência para as histórias de fantasia, lendas, mitos, contos tradicionais e de fadas. O interesse pela escrita revelou-se muito cedo e é parte importante da sua vida. PORTAS MÁGICAS é o seu primeiro trabalho publicado e foi escrito quando tinha vinte e um anos.
 
ENTREVISTA
1 - Como e quando surgiu o gosto pela escrita?

O meu gosto pela escrita surgiu quando era criança, no quarto ano do primeiro ciclo. Tinha uma professora que nos pedia duas tarefas semanais relacionadas com a leitura e a escrita: uma era escolher e decorar um poema (que teríamos de declamar perante a turma) e a outra era escrever uma pequena história (que teríamos de ler à turma). A partir daí, escrever (pequenas histórias, contos, descrições de momentos, lugares e estados de espírito) passou a ser um hábito e também uma necessidade.

2 - Quais os factores principais para enveredar por um género de escrita pouco explorado por autores portugueses?

A minha madrinha (que não é fada, mas que, às vezes, parece!) costuma dizer que o verdadeiro sucesso está em fazer-se o que se gosta e eu não poderia concordar mais. Portanto e, respondendo à sua pergunta, enveredei por este género porque (até agora) é o que mais gosto. Penso que o facto de ser pouco explorado por autores portugueses também poderá ter espicaçado o meu lado mais aventureiro e sedento de desafios. Afinal, se em Portugal se «consome» literatura fantástica porque não «produzi-la»?

3 - Que razões encontra para a escassez de autores portugueses neste registo?

Não posso falar por ninguém mas, no meu caso, o que fez com que Portas Mágicas passasse cerca de dezassete anos «na gaveta» foi a aparente falta de interesse do mercado livreiro português pela publicação de livros deste género escritos por autores nacionais. Penso que quando esse interesse se manifestar de forma clara e inequívoca, os autores portugueses do fantástico aparecerão. Eles existem! Andam é um pouco escondidos.

4 - Até que ponto misturar fantasia, magia e fantástico torna difícil a criação de personagens e enredo credíveis?

Criar personagens credíveis foi (e é!) uma das minhas principais preocupações. Gostaria que as minhas personagens principais fossem «pessoas» com as quais os leitores pudessem identificar-se e empatizar, nas quais pudessem encontrar bons modelos e inspiração, sobretudo o público mais jovem. Para criá-las tive, em primeiro lugar, de pensar no tipo de pessoas que eu própria gostaria de ter a meu lado nos momentos mais difíceis e desafiadores e, em segundo lugar, de inspirar-me nos meus amigos e familiares mais próximos. Com estas duas «ajudas», acabou por não ser muito difícil.

Quanto ao enredo, gostaria que fosse suficientemente crível para conseguir «transportar» os leitores para a ação do meu mundo de fantasia e torná-lo seu. Na altura, não posso dizer que tenha sido muito complicado, talvez por eu própria ser muito jovem, por estar a fervilhar de histórias por contar e por vestir este meu mundo fantástico como uma segunda pele.

5 - Que autores mais a influenciam? Porquê?

Na altura em que escrevi Portas Mágicas, teria de dizer que os autores de fantasia e fantasia histórica que mais me marcaram foram J.R.R. Tolkien, por ser o mestre do fantástico por excelência, C.S. Lewis, por ter tido a ideia de transportar os seus jovens e atribulados protagonistas para um mundo mágico de beleza inebriante, e Marion Zimmer Bradley, pela forma apaixonante como pegou em mitos e lendas de sempre e os contou do ponto de vista das suas inesquecíveis personagens femininas. Atualmente, não poderia deixar de referir J.K. Rowling, pela sua imaginação prodigiosa e pelo seu sentido de humor fabuloso, e, sobretudo, Juliet Marillier, pela sua escrita sublime e pela sua capacidade de transformar contos tradicionais em romances épicos.

6 - Em que circunstâncias surgiu a oportunidade de editar e quais as expectativas iniciais?

Há cerca de dois anos, aHcomecei (ou antes, recomecei) a procurar uma editora que tivesse interesse em publicar Portas Mágicas. Depois de várias tentativas frustradas, no início do Verão de 2012 uma grande amiga falou-me da Editora UNIVERSUS e sugeriu-me que entrasse em contacto com Maria José Lacerda. Foi o que fiz e, a 15 de dezembro de 2012, o livro foi lançado. Parece ter sido simples, não parece? Mas não foi. Foram dezassete anos de dúvidas, incertezas e respostas negativas ou inexistentes. Quando surgiu o nome da UNIVERSUS, não sabia o que esperar, mas também não estava disposta a desistir. Felizmente, deram-me a resposta que fez a diferença!

7 - Surpreendeu-a o sucesso que foi a sessão de apresentação? Porquê?

Sim e não. Por um lado, fiquei surpreendida com adesão de pessoas que eu não conhecia e que se deslocaram ao evento do lançamento para assistirem e participarem. Jamais o esquecerei. Por outro lado, não posso dizer que fiquei surpreendida com a adesão da minha família e dos meus amigos, alguns dos quais vieram de muito longe para estar presentes naquele momento tão importante para mim. A maior parte são pessoas que estão sempre lá para mim e com as quais sei que posso contar incondicionalmente, o que muito me comove.

8 - Que retorno tem tido por parte dos leitores?

O retorno tem sido bastante positivo, o que muito me alegra, claro! Já ouvi e li as expressões «mágico», «fantástico», «apaixonante»… Encorajador, certo?

9 - Projectos para o futuro?

Para já, pretendo terminar e publicar o resto da saga Portas Mágicas (que penso que será uma trilogia) e dar seguimento a outras ideias e projetos que tenho em fila de espera. Um deles talvez passe por reunir todos os pequenos contos e histórias que tenho escrito ao longo dos anos e tentar publicá-los. Vamos ver as oportunidades que surgem.

10 - Que conselhos dá a quem pretende seguir o mesmo género literário?

Os conselhos que posso dar aos outros são os que dou a mim própria: não desistir (mesmo quando não obtemos respostas), acreditar (que somos capazes), continuar a escrever (ainda que mais ninguém pareça interessar-se pelo que escrevemos), arriscar (porque ouvir um «não» não é o fim do mundo), continuar a arriscar (porque há sempre a possibilidade de ouvir um «sim»). J